14.12.09

2009 tá acabando? E daí?


Já está na hora do balanço de final de ano?
Bom, sei lá.
Eu sempre achei essa época do ano bastante excitante, mas mais pela proximidade de férias do que por causa das festas.
Mas, como os meus avós paternos já morreram, e era sempre com eles que eu ficava, as coisas ficaram estranhas.
Acho a obrigatoriedade de ceia de nata/ ceia de ano-novo um saco.
A diversão fica toda de lado em prol de uma formalidade forçada, de um desfile de roupas novas e que nem sempre são bonitas, de comidas pesadas para o clima tropical, de gente que se xinga e se detesta durante a porra do ano mas, deu meia-noite, tá lá, se abraçando e derramando as inevitáveis lágrimas-de-bêbado-que-tomou-vinho-chapinha.
Ah, e sem esquecer das crianças, terríveis, mal-criadas, respondonas e surdas. Sim, porque só podem ser surdas, e filhos de pessoas surdas, cegas e tetraplégicas, já que os pais não ouvem nossas brincas, não vêem seus rebentos jogando comida uns nos outros e não levantam pra apartar as brigas nem quando orelhas são arrancadas e olhos são furados com aquelas colherzinhas de plástico.
Sim, eu ainda passo o natal com a família, mas é mais por causa da minha filha, mesmo passando pra ela uma falsa imagem de família/doriana.
Ela vai crescer.
E aprender.
Já o ano-novo, bom, esse sim é divertido.
Vou pra onde der na telha, e bebo o que der na telha.
Não faço promessa, nem como romã, nem uso branco.
No fim das contas, o que vale mesmo, é a festa, a cerveja, o povo bêbado, as caras amassadas no dia seguinte, a galera com azia por causa da farofa e com nojo da maionese revirada...

No geral, o ano de 2009 foi, no mínimo, inusitado.
Ganhei presentes incríveis (leia-se Márcio Fontes - sim, nome de escritor se escreve -quase- completo).
Conheci pessoas maravilhosas (uma delas, leia-se Fábio Fernandes, e seus Dias da Peste - que ainda vou resenhar, mas tô com preguiça!).
Li e reli livros legais e outros, bom, nem tanto.
Consegui ver filmes, nossa, que bom!
Revi amigos perdidos.
Refiz amizade quase perdida.
Abracei muita gente.
Bebi muito, ressaca quase todo final de semana, e no meio da semana.
Trabalhei muito.
E chorei um pouco.
Não vejo a hora de entrar de férias pra poder ficar em casa e assistir desenhos na tv.
E decidi que vou fazer aula de dança no ano que vem, mesmo a escola sendo lá no Tatuapé...
E vou comprar um notebook, nem que seja em 20 vezes!

Roberta Nunes

25.11.09

Da série: Coisas para fazer no final de semana...

Palavras do próprio Alexandre Heredia (embora eu ache que ele deva trocar a foto...):

Pessoal,
neste final de semana (dias 28 e 29/11) vou lançar não apenas um, mas DOIS livros, um cada dia, de editoras diferentes e tal. Abaixo os convites com os detalhes:
Primeiro, no dia 28/11, sábado, a partir das 16hs na Livraria Cultura do Shopping Market Place, participarei do lançamento da Coleção Imaginários, da Editora Draco (do qual participo no Vol. 2) e também de uma mesa redonda interessantíssima sobre literatura fantástica.



No dia seguinte (29/11, domingo), participarei do lançamento da antologia Folhas de Espantos, pela Editora Folha da Baixada, no The Wall Café, lá no Bixiga, a partir das 16hs. Neste livro, além de um conto, eu também contribuo com o prefácio. Na ocasião também darei uma pequena palestra a respeito da literatura de gênero no Brasil.



Espero todos vocês por lá!

Um grande abraço,
Alexandre Heredia

23.11.09

A Justiça é mais cega na blogosfera

A Justiça é mais cega na blogosfera

Hora de romper o silêncio deste blog e tocar numa questão que nos atinge a todos que somos, de certa forma, produtores de conteúdo na Internet e veículos com algum, mesmo que pequeno, alcance.

Quer ler o resto?
Aqui.

19.11.09

12.11.09

Fome negra



Os lábios estavam manchados, e os lençóis estavam imundos com todo aquele sangue.
Não deveria ter perdido a cabeça!
Sempre fora paciente, e quase nunca se deixava levar.
Mas, era gostoso demais!

*
Morena e linda, com peitos e bunda perfeitos, toda depilada, e a boca vermelha.
Era o que o sangue latejando nas têmporas martelava a cada minuto.
Um arrepio subiu por sua espinha ao ver aquela bunda branca e deliciosa subindo e descendo no seu membro enorme de africano.
A garota parecia uma doida, abocanhando o que nem as jumentas de sua terra conseguiam agüentar.
Ele imaginou que fosse rasgá-la quando ela sentou sobre ele.
Era como empalar alguém, sentir o seu membro invadindo os órgãos como se fosse uma lança feita de nervos e sangue.
Era o céu!
Enquanto a garota gemia alto, ele urrava e controlava o prazer, mas não era nada fácil.
Até que ela mudou de posição, se pôs de quatro, e pediu pra ser empalada "de verdade".
Ele nunca tinha conseguido tal coisa com uma mulher, pelo menos, não com uma viva...
Quanto mais ele arremetia, mais ela queria, e gritava.
Ele enlouqueceu, e fez uso de toda a sua fúria e tesão.
Quando deu por si, o sangue estava por todos os lados, nas paredes, na cama, escorrendo pelo chão, melando os corpos.
Até que, um instante antes do gozo, num momento de sanidade no meio da loucura, ele viu , pelo espelho, o sorriso satisfeito da mulher enquanto seus dedos ensangüentados passeavam lascivamente pelos lábios grossos.
Foi a última coisa que viu, e o orgasmo foi avassalador.

*
A parte difícil não era se livrar dos corpos, era limpar a sujeira.
Nessas horas, sempre lançava mão do suborno.
Uma faxineira mais necessitada sempre arranjava lençóis extras.
Ela recolheu as roupas do homem, tomando o cuidado de limpar a carteira e os bolsos, juntou com os restos dele, os ossos ocos, a pele grossa, os poucos pelos encaracacolados, os lençóis sujos e colocou tudo num enorme saco preto, pensando na ironia da coisa.
Guardou os olhos.
O importante é que não estava mais com fome.


Roberta Nunes

30.10.09

JEDICON 10 ANOS!



Fãs de Star Wars celebram 10 anos de atividade com visita de ator da Saga

No próximo dia 14 de novembro, fãs da saga ‘Star Wars’ comemorarão 10 anos de seu evento mais importante, a JediCon, um encontro que já é calendário entre os fãs de ficção-científica em todo Brasil. O evento terá um concurso de fantasia (cosplays), palestras, apresentações coreografadas, sorteios, vídeos e muitas outras atrações em um dia inteiro. É um dia onde os fãs podem viver e conviver com pessoas que nutrem a mesma paixão que elas. E pra coroar este momento tão especial, é a primeira vez que a JediCon SP traz um ator, o que torna esta Convenção uma data ainda mais especial e imperdível.

Este ano, a JediCon terá a presença do ator britânico Jeremy Bulloch, que interpretou o Caçador de Recompensas “Boba Fett”, um dos personagens da Trilogia Clássica mais queridos pelos fãs.

“Muitos fãs tem admirado Boba Fett desde a primeira Trilogia, tanto que George Lucas aproveitou o personagem como elemento fundamental da trama na trilogia nova”, explica Marcelo Forchin, presidente do Conselho Jedi São Paulo: “Assim, a organização do evento pensou nesta JediCon SP como uma oportunidade especial para que os fãs possam conhecer alguém que esteve nas gravações dos filmes, e que certamente trará detalhes inéditos sobre a saga”.

Popularidade recorde em poucos minutos de visibilidade

Nascido na cidade de Market Harborough, no coração da Inglaterra, em 16 de fevereiro de 1945, Jeremy Bulloch já havia feito pequenos papéis em filmes de James Bond (007), quando foi convidado para vestir a armadura de Boba Fett em 1980, no filme ‘O Império Contra-Ataca’ e depois em 1983 em ‘O Retorno do Jedi’. O personagem, entretanto, surgiu pela primeira vez em desenho animado em 1978 em uma animação produzida para um especial do dia de ação de graças, exibido no Brasil como especial de Natal de Guerra nas Estrelas. Alguns dizem que era o capacete que parecia um balde, outros que era o foguete propulsor nas costas. O fato é que poucos personagens ganharam a admiração de tantos fãs com tão poucas atuações – em especial por sua destacada presença em “O Império Contra-Ataca” e “O Retorno de Jedi”.

De fato, o sucesso do “cabeça de balde” (apelido dado pelo próprio filho de Bulloch) foi tão grande que George Lucas o transformou em um dos personagens mais importantes da nova trilogia, ao mesmo tempo dando-lhe uma origem detalhada e interessante - Boba Fett seria um clone sem modificações genéticas do Caçador de Recompensas Jango Fett, que o criou como a um filho e que foi responsável pelo desenvolvimento dos “Clone Troopers”, soldados que mais tarde comporiam a força principal do Império.

A participação de Jeremy Bulloch em convenções de Star Wars é comum em todo o planeta, e sua popularidade se dá não só por ele ter vestido a armadura de Boba Fett, mas por causa do seu ponto de vista privilegiado dos bastidores da Saga, onde era o chamado “pau-pra-toda-obra”. Por exemplo: ainda em O Império Contra-Ataca, Jeremy também encarnou o Tenente Sheckil, que era o oficial do Império que segura a Princesa Leia na Cidade das Nuvens enquanto ela grita para Luke Skywalker tentando avisar de que ele está para cair em uma armadilha. Na nova trilogia, Jeremy fez uma participação especial a convite de George Lucas, no Episódio III, onde ele interpretou o Capitão Jeremoch Colton que pilota a nave Tantive IV, em cena que foi cortada da edição final mas que não representa nenhum problema para os fãs que se orgulham de saber os detalhes mais obscuros da saga e que esperam ouvir de Bulloch detalhes nunca antes contados no Brasil.

Informações do evento:

JEDICON SP 2009 - Dia 14 de Novembro de 2009
Evento organizado de fã para fã sem fins lucrativos e com arrecadação de alimentos para doação
Local: APCD – Associação Paulista de Cirurgiões Dentistas
Endereço: Rua Voluntários da Pátria, nº 547 – Santana (Próximo à estação Portuguesa-Tietê do Metrô)
Horário: das 10:00 às 18:00
Ingressos: R$ 25,00
Informações: http://www.conselhosp.com.br/jedicon
E-mail: contato@conselhosp.com.br

29.10.09

E você? Conseguiria puxar a tomada?

Eu já encomendei o meu...



Sobre a Obra:

Cada segundo passado nos torna mais dependentes da Tecnologia. Hoje ela ainda necessita de nossa interação para seguir seu desenvolvimento. Mas cada vez menos essa afirmativa é exata. Haverá um ponto de mudança. Um avanço natural. A História Humana nos ensinou isso em séculos de progresso tecnológico. E a história da evolução digital vem sendo escrita entre o ontem e o amanhã.

Atualmente convergimos para o ponto onde a tecnologia se tornou tão comum em nosso cotidiano que não a percebemos mais. Celulares, palmtops, realidade virtual, tablets, implantes, wireless, videogames e nano máquinas já são corriqueiros. Somos atendidos por máquinas, nos comunicamos através delas, permitimos que digitalizem nossas vidas em arquivos... Conversamos com elas. O tempo em que será impossível nos separarmos dos computadores está cada vez mais imediato.

E se um dia fosse necessário nos afastarmos de todo conforto tecnológico que nos cerca? Se precisássemos nos desconectar de toda a praticidade da evolução digital? Caso a sua vida, como você a conhece hoje, dependa de um total afastamento da informação, o que você faria? Se estivéssemos vivendo Os Dias da Peste moderna?

Você conseguiria puxar a tomada?


Orelhas da Obra, pelo Professor João de Fernandes Teixeira

Tendo como cenário o mormaço de um Rio de Janeiro sombrio e cyberpunk, este romance narra a história de um técnico em computadores e professor universitário que ganha a vida percorrendo empresas cujos donos estão desesperados com as panes de suas máquinas. Artur Mattos é esse personagem ambíguo cuja existência vive mergulhada numa sufocante rotina diária de máquinas que quebram e cujo reparo depende do conhecimento de alguns macetes.

Mas ao mesmo tempo ele é o ser que nos fascina pelo seu conhecimento detalhado da história da evolução das tecnologias digitais. Ele é o ser dividido, no qual se confrontam a banalidade da gambiarra e a fascinação pelo universo da alta tecnologia. Como qualquer anti-herói moderno, ele é um Quixote amesquinhado, o típico personagem ao qual fomos reduzidos nas sociedades digitalizadas.

Mas a vida real de Artur Mattos se passa numa cidade opressiva. Ele é um solitário que mora num apartamento cinzento, típico de um solteiro que tem sempre a geladeira vazia e apenas café solúvel na sua mesa. Nele esta o contraste de quem tem uma vida de má-qualidade, mas ao mesmo tempo povoada pelos inventos da tecnologia de ponta, que hoje participam tanto de nossa vida que mal os percebemos.

Esse contraste chocante impressiona o leitor logo no início do livro pelo seu viés heideggeriano. Uma era dominada pelo uso comercial do computador, algo para o qual seu inventor Alan Turing jamais o concebeu. O sonho de Turing pode ter se tornado uma espécie de pesadelo digital, um produtor de vidas mesquinhas. Afinal, será que já não faz tempo que vivemos num universo cyberpunk? Será então que devemos temer e impedir a inteligência artificial por causa do efeito nocivo de suas tecnologias?

Essa é uma das poucas questões – entre muitas – que este livro pode provocar. Um livro que não pode, tampouco, deixar de ser lido por nos seduzir com sua prosa agradável e promissora que já aparece no romance de estréia do professor Fábio Fernandes.

JOÃO DE FERNANDES TEIXEIRA é bacharel em Filosofia pela USP, mestre em Lógica e Filosofia da Ciência pela UNICAMP, PhD pela University of Essex, Inglaterra, com pós-doutorado na Tufts University, em Boston, orientado pelo Prof. Daniel Dennett. É pesquisador do CNPq e integra o programa de pós-graduação em Filosofia da Universidade Federal de São Carlos, onde é professor titular. É autor de Mente, Cérebro e Cognição, A Mente Segundo Dennett e Inteligência Artificial, entre diversos outros livros.

Os Dias da Peste (PRÉ-VENDA com entregas a partir de 07/11/2009) - 20% de desconto
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26.10.09

80's e 90's - OPINIÃO DE ORDEM ESTRITAMENTE PESSOAL E GOSTO PARTICULAR

Depois de um bocado de tempo, eu tomei um porre.
Mas foi um belo porre.
Tomei vodka e tequila e cerveja, coisa que raramente acontece.
Me lembro de não conseguir andar em linha reta.
Descer as escadas do lugar, só com ajuda dos santos de devoção.
Posso dizer que o problema foi beber+dançar.
Ou ainda, dizer que estava num daqueles dias em que o álcool faz mais efeito, quando estamos mais suscetíveis.
O fato é que algumas cositas estavam me incomodando.
Era uma daquelas festas revival, numa casa noturna antiga.
A inevitável nostalgia, a violenta ação do tempo, muitas carecas e barrigas e barangas de botox, fazendo caras e bocas.
O impacto, o choque, o susto.
Encontrar pessoas que eu não via há uns quinze, vinte anos, ouvir músicas antigas.
A sensação que eu tinha era que a grande maioria das pessoas estavam enfrentando o mesmo conflito, e olha que nem fui eu quem abordou o assunto, mas o Márcio Fontes, que estava comigo e colaborou consideravelmente para o meu pileque, inclusive na hora de tentar entrar no banheiro masculino pra fazer um xixi, e a inevitável intervenção do segurança, coisa que eu lembro vagamente.
O Front 575, juntamente com tudo o que ele representou em todos os anos de sua existência frutífera e sólida, está mortinho da silva, e reconhecer o cadáver foi uma experiência que não pretendo repetir.

Ah, e a discotecagem na segunda metade da noite estava péssima...

Roberta Nunes
26/10/2009

23.10.09

Medo

A lendária DARPA, ou Agência de Projetos de Defesa Avançada dos Estados Unidos, é uma divisão militar dos EUA encarregada de projetos secretos que só ficam conhecidos anos depois de iniciados, e em não poucos casos, abandonados. A internet, por exemplo, é obra desses caras malucos.

A última “façanha” deles, liderada por Hirotaka Sato, foi criar um besouro controlado eletronicamente para fazer escutas de conversas secretas sem ser percebido. Para isso, eles implantaram uma série de eletrodos no animal, que estimula o bater de asas da forma desejada, agindo diretamente no sistema nervoso dele. Dessa maneira, podem controlar a decolagem, o vôo e a aterrisagem de besouros - geralmente espécies grandes, de 20 cm, provenientes da África. Esses implantes eletrônicos foram colocados nos insetos antes mesmo deles saírem do casulo.


O projeto já é antigo, e dizem alguns, já estão prontos um exército de besouros-cyborgs para bisbilhotar tudo quanto é ambiente. Alguns outros animais como libélulas, moscas e traças também estão na mira dos malucos da DARPA, e seriam usados em tarefas menores, como leva-e-trás de mensagens, e acesso a locais inacessíveis.

Alguns especulam que esses estudos seriam uma fase preliminar de experimentos similares em humanos, com o intuito de criar homens controlados remotamente por laptops. Existem pesquisas sobre o assunto desenvolvidas principalmente no tempo da Guerra Fria, cujo um dos maiores expoentes é o espanhol Dr. José Manuel Rodriguez Delgado. De acordo com relatórios que vazaram, os experimentos obtiveram sucesso, o que nos leva a especular sobre o andamento desse tipo de pesquisa nos tempos atuais.

Abaixo estão duas fotos da mesma paciente. Na primeira, após receber um estímulo para sentir prazer, e na segunda para atacar a parede.






Fonte: Nerds Somos Nozes

19.10.09

Carta sua, de amor


Um texto meio antigo.
Mais um exercício erótico.
Eu acho.
Foi escrito para uma coletânea que, acredito eu, não rolou.
Não importa.
Boa leitura!


Quase não pude conter as lágrimas.
Li e reli sua carta.
Uma centena de vezes.
Duas centenas.
Milhares.
É estranho o peso que a palavra escrita de próprio punho tem. A letra arredondada, o corte no “t”, o pingo no “i”, o “m” parecendo suas nádegas redondas.
Sua letra corrida, apressada, como se tivesse que correr atrás das idéias antes que elas lhe escapassem.
Mordi a língua para conter o soluço.
E a imaginação, impregnada de memória, viajou pra longe.
Fechei os olhos, e fui até você.
Sua voz macia, trespassando meu coração. Seus pelos, arrepiados ao meu toque, as pernas lindas, me prendendo numa máquina de tortura, dor e prazer.
A carta, impregnada do seu perfume, me transporta direto para seu ventre liso, seus seios pontudos, suas costas macias, suas orelhas quentes.
Aperto suas nádegas, e afundo meu rosto nos pêlos, púbis, nome lindo!, selvagens, úmidos.
Seu sexo arfante, pulsante, incendiário.
Meus dedos percorrem as linhas escritas e penetram na umidade e calor da vulva viva.
Vejo suas bocas abertas pra me receber, e ouço seus sussurros, vejo as línguas vermelhas serpenteando, me chamando, implorando pelo arrebatamento, por mim.
Sinto seu aperto, e o ar à minha se move em todas as direções.
Meu corpo não respira ar, só aspira o vapor que emana do seu suor, sua essência.
Meus lábios beijam a folha de papel, e minha língua se enrosca na sua, e sinto seus dentes.
A saliva é como a água num oásis no meio do deserto, um néctar doce de frutas, sem o qual não há vida.
A maciez dos lábios, carne, fluídos abundantes, sangue.
A língua, sabida e lasciva, perigosa,
Os dentes, meus e seus, que nunca deixam de morder, e os sangues que sempre inundam nossos beijos.
A boca, manchada e molhada, como num bolero antigo, volta a percorrer o corpo, cada canto e fresta, cada dobra e poro, canta ponto e cada vírgula.
Vejo essa mesma boca manchada e molhada, de sangue e batom borrado, repetindo, murmurando as palavras da carta de amor, de saudade, de veneno:
“... não posso suportar sua presença.
Sua essência é a morte.
Sua saliva tem gosto de perdição.
Tomo a loucura num só gole, emborco a taça da sua insanidade.
Odeio as rendas e sedas com que você me acorrenta e amordaça na sua alcova.
Não gosto da poesia que você desperta em mim, e, no entanto, não sei fazer outra coisa a não ser lirismo e sandices.
Meu útero está gelado.
Minha vagina está vazia e seca.
Não sei viver sem a umidade, aquela onde você escorrega, e me afoga...”
As suas sutilezas deslizam pelo papel, páginas e páginas delas.
Páginas de amor.
Páginas de beijos insanos.
Linhas intermináveis, sua boca ávida e faminta, ali, descrita com tanto furor a paixão.
Minha boca sedenta, acompanhando meus olhos incendiados.
Olho pela janela um instante, e vejo uma lua pálida, e noites vazias.



Roberta Nunes
Santo André, 07/12/2007.
16h10 – horário de verão

15.10.09

Agradecimentos e... desculpas?

Olha só!
Uma nota sobre mim e meu bloguinho no Fantastik!
Eric Novello e suas surpresas...
E obrigada à Nazareth Fonseca, ao Tibor Moricz, ao Márcio Fontes, ao M.D. Amado e ao Renato Azevedo, pela leitura e pelos comentários.
E sim, estou devendo visitas, comentários, contos novos.
Meu trabalho me absorve.
Minhas pesquisas me absorvem.
Até o meu sedentarismo latente me absorve!
Meudeusdocéu, preciso de uns 300 dias de férias pra poder rever os filminhos alegres que eu assitia quando criança...

21.9.09

Madrugadas Frias



A madrugada estava fria, como sempre.
Sempre faz frio em São Paulo.
Mesmo sendo uma cidade de um país tropical, aqui é sempre gelado antes da aurora.
Mas ainda sim, não me poupo do prazer de caminhar pelas ruas desertas do centro.
Ouço passos atrás de mim, e já não era sem tempo!
Uma mulher andando sozinha, no meio da madrugada, pelas ruas de uma metrópole não passaria despercebida, claro.
E claro, eu já contava com isso.
Precisava mesmo me exercitar, a ferrugem produz ruídos terríveis nas articulações!
De repente, senti um braço na cintura, uma mão na boca para abafar um possível grito. A abordagem clássica!
Deixei que suas mãos me agarrassem, e fui sendo meio arrastada, meio carregada, para trás de umas árvores enormes que havia numa praça ali perto. Se alguém viu a cena, bom, sabe como é, cada um na sua...
Devidamente jogada ao chão, pude ver meu agressor: jovem, imundo, faminto, viciado.
O cheiro de podridão e corrupção que emanava dele só aumentava minha expectativa.
Deixei que rasgasse minha blusa, e meus seios saltaram pra fora por causa da violência, e me empinei mais um pouco, para ressaltar o volume das formas arredondadas, e mantive um olhar assustado, mesmo sentindo as ondas do prazer antecipado.
Estava escuro e me senti grata, afinal eu estava ruborizada e não pálida, como a situação exigiria.
Enquanto sua língua percorria as partes onde a pele estava nua, senti um arrepio intenso, um arrebatamento que só quem vive a situação sabe.
Eu sabia que precisava me controlar.
Sabia que o êxtase tem seu momento certo.
Não adiantaria se eu me descontrolasse e me deixasse levar pelo prazer.
Deixei que o rapaz me tocasse, me lambesse, me xingasse.
Por baixo daquela decadência, eu sabia que havia luz.
Ele, apesar da pouca idade, era surpreendentemente experiente, e sabia que, mesmo sendo um ataque violento, eu estava excitada.
Não havia como esconder, a umidade brotava de mim como se fosse de uma nascente de águas perfumadas, a minha respiração arfante e a veia pulsando no pescoço, os mamilos endurecidos, tudo indicava que sim, eu estava gostando daquilo.
O moço não se fez de rogado, e ali, no chão, rodeados de embalagens vazias de salgadinho e guimbas de cigarro, nos enroscamos um no outro enquanto ele me invadia com seu membro enorme.
A cada estocada eu tirava mais dele, minhas unhas lanhavam suas costas, tirando crostas de sujeira e tiras de pele, e o sangue escorria e eu lambia os dedos.
Enquanto o pobre rapaz gozava, tudo o que havia nele era meu, afinal.
Ignorei suas memórias, seus desejos de viciado e sua sede de alcoólatra.
Suguei seu sêmen, seus testículos, seus rins.
O coração eu arranquei, com as unhas mesmo. Foi fácil afastar as costelas...
Só deixei os cabelos e as unhas, que são muito indigestos.
O dia estava amanhecendo, e na praça, em meio a um pouco de lixo e umas roupas velhas e sujas, eu enterrei seus olhos.
O meu povo nunca come os olhos.
Dizem que é onde vive a alma, e não é de bom-tom comer a alma de alguém.
Vesti minhas roupas, agora esfarrapadas, e fui pra casa tomar um banho, afinal, era quinta-feira, dia de muito trabalho no escritório.

Roberta Nunes
21/09/2009

*Foto: Theda Bara com caveira

10.9.09


O mais estranho é que ando sem tempo!
Incrível, não?
Tenho um trabalho bastante sossegado, que não me desgasta (muito), mas o fato é que mal tenho tempo de almoçar!
Ler? Escrever? Ver filmes?
Nossa!
Isso até luxo.
Não estou reclamando, só tentando assimilar essas informações.
Estranho como os acontecimentos ao redor me sugam, seja em casa, no trabalho, ou mesmo nas situações mais informais, regadas à tequila cowboy.
Mas eu sei a origem dessa bizarrice: eu não consigo relaxar.
Nunca.
Sempre me mantenho com o pé atrás, na defensiva.
Isso cansa!
Mas é assim que eu vivo, e não sai fazer as coisas de outro jeito.
O que será que o mestre diria?
"De férias, você precisa...
Valfenda bom lugar é!"




carpe diem

Mickey manda, Hulk obedece

Depois do choque, do medo e da apreensão, li essa ótima matéria na Carta Capital.
O título da matéria exprime bem o que a maioria esmagadora dos fãs teme, afinal.

Os irmãos metralha deram uma carteirada no Homem-Aranha. O Mickey Mouse, com a providencial ajuda do Tio Patinhas, arrematou, com um único lance, os direitos de uso do Wolverine (e todos os X-Men), do Thor, do Capitão América, do Homem de Ferro e do Hulk, entre outros 7 mil personagens. Por 4 bilhões de dólares a Walt Disney Company comprou, na segunda-feira 31 de agosto, a Marvel Entertainment, em um negócio que pegou de surpresa especialistas de mercado e gurus do mundo do entretenimento, impressionados com a agressividade da empresa voltada para produtos-família, como as grifes Hannah Montana e High School Musical.

Com um impressionante catálogo de desenhos animados – de destaques do cinema no século XX, como Fantasia, a novas produções, via Pixar, como o delicado Up - Altas Aventuras, passado na Amazônia, que estreia neste fim de semana no Brasil –, a Disney é uma das mais importantes corporações de mídia do planeta, dissecada nos anos 70 pelo sociólogo belga Armand Mattelart e o escritor chileno Ariel Dorfman no clássico Para Ler o Pato Donald, em que era apresentada como ponta de lança da propaganda imperialista durante a Guerra Fria. Mais: a dupla denunciava o caráter assexuado dos personagens das histórias em quadrinhos. Nada mais distante da Marvel, com personagens das mais variadas etnias, dependentes químicos e sexualidade pouco convencional.

Em artigo para a Salon, o crítico Andrew O’Hehir lembra que em sua adolescência, quando ia comprar gibis, Marvel e Disney faziam parte de universos completamente diversos. Os quadrinhos do Pato Donald e de seus sobrinhos Huguinho, Zezinho e Luizinho ficavam na vitrine. Os deuses supermasculinizados da Marvel permaneciam escondidos no fim da loja. “A lição central dessa aquisição é a mudança radical de nossa cultura de-massas, de minha infância em Berkeley para hoje. Já imaginou os Jonas Brothers no lugar do Homem de Ferro ou do Wolverine? Ou a Pixar produzindo a batalha entre Os Incríveis e O Incrível Hulk?”, sugere.

Para Ted Magder, diretor do Conselho de Mídia e Cultura da Universidade de Nova York (NYU) e autor de Franchising the Candy Store, focado em disputas comerciais na era da globalização, não há possibilidade de a Disney infantilizar ainda mais os personagens da Marvel. Fãs, afinal, já reclamam de excessos como a adaptação do Homem-Aranha, a máxima criação de Stan Lee, para a Broadway. “Não podemos esquecer que a Disney é a dona da Miramax. Os super-heróis da Marvel não serão ‘disneyficados’ em termos de moral ou valores pessoais. Mas se submeterão à estratégia de marketing da Disney.”

Magder afirma que a aquisição do controle da Marvel pela Disney, garantida com um pagamento de 50 dólares por ação, em uma valorização de 29% do preço real, depois de três meses de negociações secretas, revela um desejo sintomático, neste momento de crise financeira global, dos grandes conglomerados de mídia norte-americanos de reduzirem os riscos criativos ao máximo. “ADisney, com longa história de produzir conteúdo próprio, saiu às compras para adquirir algo já formatado.”

Nos últimos anos, a Marvel se transformou em um estúdio de cinema, explorando seus personagens em diversos meios. Não apenas em campeões de bilheteria, que teriam totalizado 4,5 bilhões de dólares nos cinemas de todo o planeta, mas também em jogos de videogame. “A marca Marvel e seu conteúdo, que é um tesouro, só serão beneficiados por nossa extraordinária capacidade de distribuição e produção”, disse Robert A. Iger, o principal executivo da Disney, em entrevista na segunda-feira.

Magder lembra que o poder de multiplicação dos peixes é o fator mais atraente para a Marvel em sua decisão de ser englobada pelo castelo de Mickey. “A Marvel tem uma biblioteca de personagens que podem ser transformados em filmes, videogame, brinquedos, qualquer tipo de merchandising, até em parques temáticos”, diz.

Bob Iger, por sua vez, combate os que acreditam ter sido um passo em falso da Disney arrematar a gigante dos gibis em um momento de especial preocupação para a indústria de cultura de massas norte-americana, com estúdios cortando custos e índices de leitura despencando todos os meses: “Nós pagamos um preço que reflete o valor agregado pela Marvel e o potencial que podemos criar juntos. É o que chamo de preço total, mas é um preço justo”.

Os leitores atentos de Mattelart e Dorf-man não se surpreendem com o fato de a Disney pretender integrar de imediato alguns dos personagens da Marvel em seus parques na Califórnia, na França e em Hong Kong. A exceção é o Disney World em Miami, por conta de um direito de exclusividade com a Universal, que em seu parque em Orlando conta com atrações como a The Amazing Adventures of Spider-Man e a The Incredible Hulk Coaster. De todo modo, os estúdios que fecharam parcerias com a Marvel antes da aquisição da Disney (como a Fox com o X-Men, a Sony com o Homem-Aranha, a Universal com o Hulk e a Paramount com o Homem de Ferro) seguem com o direito de exclusividade de produção e distribuição desses personagens no cinema. Por isso, críticos da tacada de Iger apontam para os riscos da saturação da Marvel no mercado.

Nikki Finke, do Deadline Hollywood, foi o primeiro a revelar as ligações do comandante da Disney com o mundo dos quadrinhos. O tio de Iger, Jerry, criou, nos anos 30, juntamente com o adolescente Will Eisner, um escritório especializado na produção de gibis. Anos mais tarde, Eisner criaria personagens como The Spirit. O primeiro funcionário contratado por Iger e Eisner foi Jack Kirby, o “pai” do Capitão América.

Finke conta que, desde os anos 90, Bob Iger comandava discussões para a aquisição da Marvel, mas enfrentava resistências de executivos que a consideravam “pouco Disney”. Depois de se tornar o CEO da empresa, e de adquirir em 2006 a Pixar por 7,4 bilhões de dólares, seu sonho voltaria à tona. Em junho, teria voado para Nova York com o objetivo de conversar com Ike Perlmutter, que comprou a Marvel há uma década, quando em crise, e a transformou em máquina de fazer dinheiro. Como Perlmutter controla 37% das ações da Marvel, estima-se que ele tenha embolsado algo como 1,5 bilhão de dólares com a venda, ao mesmo tempo que teria garantido a independência da empresa no mesmo estilo da Miramax durante o período em que os irmãos Weinstein comandavam o estúdio, responsável por sucessos como O Paciente Inglês, Chicago e Shakespeare Apaixonado.

O casamento Disney-Marvel sintetizaria uma realidade em tempos de vacas magras: quem tem capital engloba empresas com potencial, mas sem possibilidade de alçar maiores voos com investimento próprio. A Marvel estaria com problemas para financiar a adaptação de filmes, pois teria de arcar com um terço das despesas de produção. Com a Disney, tudo ficará mais fácil. Analistas lembram ainda que a união é perfeita, pois, enquanto os personagens da Marvel são mais populares com meninos, produtos da Disney como A Pequena Sereia, Jonas Brothers e Hannah Montana recebem mais atenção das meninas. Uma exceção seria o mega-hit Piratas do Caribe.

Um dos poucos na mídia a não se impressionar com o negócio foi o experiente Jeffrey Wells, com passagens pela Entertainment Weekly, People, Los Angeles Times e The New York Times. Wells, há uma década o oráculo por trás do site Hollywood Elsewhere, diz que, quando uma corporação engloba outra, as mudanças são pouco significativas. Para Wells, no século XXI, todas as corporações de mídia estão viciadas nas adaptações de histórias de super-heróis para a tela grande.

“Concordo com ele apenas em parte. O conteúdo produzido pela Marvel é importantíssimo para a Disney, exatamente porque não se trata de coisas como A Pequena Sereia ou Mickey Mouse. A Disney precisava incrementar seu modelo de negócios e este é, a meu ver, um belo gol. Wells não leva em conta a extensão com que a Disney, mestre em ganhar cada dólar com a exploração de seus personagens, pretende usar os símbolos maiores da Marvel. Você já pode esperar pelo Quarteto Fantástico Adventure Weekend Park no que hoje é um estacionamento vazio em uma cidade perto de sua casa!”, diz Magder.

Não deve ser mera obra do acaso a revelação mais interessante de Nikki Finke: Bob Iger teria passado os dois últimos meses lendo sem parar a Enciclopédia Marvel, estudando com devoção exemplar cada aspecto das histórias dos personagens da máquina de sonhos dos quadrinhos.

31.8.09

Não vale a pena ser bonzinho...



Anakin é o c*, meu nome
agora é Darth Vader, porra!

18.8.09

Extermínio 1 e 2

Depois de ler a ótima crítca sobre "Extermínio" de 2003 no Boca do Inferno, resolvi criar vergonha e alugar.

Não me arrependi.
Comecei a olhar em volta e percebi que não havia lugar para me esconder caso uma tragédia como aquela acontecesse.
É um filme fantástico, com sutilezas que são jogadas na nossa cara como sangue contaminado.
Não sei se podemos classificá-lo como um filme de zumbi.
O final alegrinho dá todas as brechas para uma continuação e, pimba! temos "Extermínio 2", que saiu em terras tupiniquins em 2007.

E (pequeno spoiler que não compromete...), atenção para a cena do helicóptero no campo de pouso...
O clima pessimista do filme é absolutamente contagiante, e você se pega tão desesperançado quanto aquelas pessoas.
Recomendo.

Revista de Ficção Científica Brasileira, na Índia?

Pois é.
Segundo o Fábio Fernades, é isso mesmo.
"...
A mais nova revista de ficção científica e fantasia que acaba de sair na Web voltada para o mercado internacional vem da Índia, e se chama Kalkion: lançada há pouco mais de dois meses em inglês, só esta semana ela também lançou sua edição em hindi, e já começa os trabalhos com uma equipe de editores e autores multinacional, tendo gente da Índia, Estados Unidos, Canadá e Brasil."
Interessado?
Então clique aqui e veja como participar.

Que a Força nos dê uma Vida Longa e Próspera.

Reestréia da Trilogia Libertina de Marquês de Sade, no Satyros Dois

A FILOSOFIA NA ALCOVA

Sinopse: Dolmancé e Madame de Saint´Ange, dois dos personagens mais libertinos da história da literatura universal são os protagonistas desse texto, escrito originalmente pelo marquês de Sade, em que é apresentada a educação sexual de uma jovem virgem, com aulas práticas e teóricas de libertinagem. Após o período de aprendizado, a mãe da jovem chega ao palácio dos libertinos para tentar resgatá-la, quando então é confrontada pelos mentores da jovem e por ela mesma.
Texto: Rodolfo García Vázquez, a partir da obra homônima do marquês de Sade.
Direção: Rodolfo García Vázquez
Elenco: Phedra D. Córdoba, Andressa Cabral, Luana Tanaka, Marcelo Jacob, Marta Baião, Rafael Mendes e Henrique Mello
Quando: Sextas às 23h59
Onde: Espaço dos Satyros Dois, pça Roosevelt, 134
Quanto: R$30,00; R$15,00 (Estudantes, Classe Artística e Terceira Idade); R$5,00 (Oficineiros e dos Satyros e moradores da Praça Roosevelt)
Lotação: 70 lugares
Duração: 80 minutos
Classificação: 18 anos
Reestréia: 14 de agosto, por período indeterminado

OS 120 DIAS DE SODOMA

Sinopse: Inspirado no romance do Marquês de Sade, a montagem, que contou com criticas favoráveis da imprensa e grande adesão do público, esta em cartaz desde maio de 2006. O espetáculo trata de questões filosóficas e políticas colocadas pela obra sadeana, em um contexto brasileiro de corrupção e decadência das instituições sociais.
Texto: Rodolfo García Vázquez, a partir da obra homônima do marquês de Sade
Direção: Rodolfo García Vázquez
Elenco: Eduardo Chagas, Marta Baião, Ruy Andrade, Antônio Campos, Marcelo Tomás, Angrey Fiel, Tainah Brandão, Danilo Amaral, Diogo Moura, Erika Forlim, Henrique Mello, Heitor Saraiva, Patrícia Santos, Rodrigo Souza, Rafael Mendes, Samira Lochter, Tiago Martelli, Luana Tanaka, Robson Catalunha, Luiza Valente, Marcelo Jacob
Quando: sábados, 23h59
Onde: Espaço dos Satyros Dois, pça Roosevelt, 134
Quanto: R$ 30,00; R$15,00 (Estudantes, Classe Artística e Terceira Idade); R$ 5,00 (Oficineiros dos Satyros e moradores da Praça Roosevelt)
Lotação: 90 lugares
Duração: 120 minutos
Classificação: 18 anos
Reestréia: 15 de agosto, por temporada indeterminada

JUSTINE

Sinopse: Última parte da trilogia dos Satyros para os textos de marquês de Sade, a peça conta a história da pura, religiosa e inocente personagem Justine (Andressa Cabral) que acaba se envolvendo em experiências de crime, tortura e depravações que testarão seus valores morais e de conduta, enquanto sua irmã, a bela e libertina Juliette (Sabrina Denobile) realiza uma trajetória cheia de sucessos e prazeres.
Texto: Rodolfo García Vázquez
Direção: Rodolfo García Vázquez
Elenco: Andressa Cabral, Sabrina Denobile, Gabriela Cerqueira, Carolina Angrisani, Heitor Saraiva, Danilo Amaral, Diogo Moura, Eduardo Prado, Marcelo Jacob, Gisa Gutervil, Henrique Mello, Luana Tanaka, Luisa Valente, Marcelo Tomás, Eduardo Chagas, Robson Catalunha, Rafael Mendes, Ruy Andrade, Samira Lochter, Tiago Martelli
Quando: Sextas e sábados, 21hs
Onde: Espaço dos Satyros Dois, Pça Roosevelt, 134
Quanto: R$ 30,00; R$15,00 (Estudantes, Classe Artística e Terceira Idade); R$ 5,00 (Oficineiros dos Satyros e moradores da Praça Roosevelt)
Lotação: 70 pessoas
Duração: 80 minutos
Classificação: 18 anos
Gênero: Tragicomédia
Reestréia: 14 de agosto, por período indeterminado


Informações e reservas: 11 3258-6345

Companhia de Teatro Os Satyros

13.8.09

Desesperança II


Como fazer?
Como chegar até ela?
Tão linda, naquela palidez mortiça!
As olheiras só realçam o verde dos olhos, e a magreza, uma aura de fatalidade que me enlouquece!
Será que ela sabe?
Parece que nem nota as pessoas ao redor, médicos, enfermeiras, visitas, flores.
E sua imobilidade torna-a frágil, traz a minha violência à tona.
Eu fico horas ali, olhando para ela, só controlando a vontade de machucá-la, de ver seu sangue escorrer, de quebrar os ossos do seu rosto com minhas próprias mãos, louco para ouvir seus gritos e estalos, e ver suas lágrimas.
As lágrimas que teriam o brilho de diamantes, e se misturariam ao sangue, e se transformariam em rubis...
Seus olhos parados, fitando o teto. Duas esmeraldas opacas, desesperançadas.
Coma.
Não, ela não sabe.
Hoje, faz cinqüenta anos que ela morreu.
Seu espectro ainda está naquele quarto, na mesma cama desativada, formando uma eterna mancha escura no colchão esburacado.
Sua alma presa ao presente, sem entender ou sentir.
Seu corpo já deve ser só ossos.
Anônimo.
Silencioso.
Branco e casto.
Noiva.
Sua voz, calada, é só eco na minha memória.
Ela já foi carne.
Hoje, é sombra.
E eu estou aqui, esperando.
Esperando que ela volte.
Escrevendo e escrevendo.
As pilhas de papel se acumulando a minha volta, a caneta arranhando, ruído interminável, insuportável, ensurdecedor.
Tenho todo o tempo do mundo.
Tenho a eternidade.
Posso escrever para sempre.
Quando ela acordar, saberá.
Quando ela acordar, entenderá.
Nada mais de solidão, dor ou medo.
Não ouvirei mais os gritos dos aflitos e nem verei mais os dedos acusadores apontando pra mim.
Serei livre.
Ouvirei, finalmente, as trombetas do paraíso.
Não verei mais o desfile dos infelizes, perdidos, mutilados.
Não terei mais que sentir o olhar indiferente dela, pois ela será luz novamente, benevolência e doçura.
Farei com que saibam que ela é linda, e não putrefata.
Farei com que entendam o que é o amor, irradiado direto do coração de um anjo.
O que é brancura comparada à beleza irradiada das asas dela.
Perdão e paraíso.
O canto dos anjos soará desafinado quando sua voz soar pelos céus, aos gritos, agonia e dor.
Ela será minha, então.
E eu quebrarei todos os seus ossos novamente, um a um.
Sentirei os estalos, em regozijo.
Serei um ser completo somente quando sentir os respingos de sangue em meu rosto, e enterrarei os meus braços no ventre aberto.
Espalharei as vísceras pelo chão, e pintarei as paredes de rubro.
Comerei o coração ainda pulsante
E não haverá mais agonia em mim.


Roberta Nunes
29/09/2008
Adaptado de “Desesperança”, conto escrito em 2005 para o grupo de discussão literária on-line “Cryacontos”.

10.8.09

Segunda-feira é dia de começar a dieta, depois dos abusos do final de semana.
Também é o dia de rever alguns conceitos, de quebrar certos paradigmas.
Me reservei o direito de me manter em suspense nos últimos dias.
Tirei peças antigas do armário, e vi que não me servem mais. Não por causa do tamanho, ou da moda, mas não se encaixam mais no que eu sou hoje.
Ouvi músicas antigas, que me provocaram sentimentos conflitantes.
(não que músicas novas me interessem muito...).
Um amigo me diz que isso se chama "adultice".
Foi um final de semana de expurgos.
Estou criando espaços para sensações, aprendizados, leituras, pontos de vista, novos exercícios de paciência e tolerância.
O processo não é fácil, mas é dolorosamente necessário.
Olhar no espelho e se reconhecer como uma pessoa diferente, mesmo que, na essência, nada tenha mudado.
Descobrir finalmente que aquele brilho que andava sumido, afinal de contas, nunca sumiu de todo.

7.8.09

Admirável Mundo Novo


"Oh admirável mundo novo que criaturas tais abriga..." (W. Shakespeare, "A tempestade")
Sim!
Ridley Scott dirigindo e Leonardo DiCaprio como Bernard.
Se bem que eu acho que ele tem mais jeito para o John, mas...
Bom, pra quem não leu, azar.
Um livro que ganhei usado, quando eu tinha uns 12 anos e hoje, coitado, está caindo aos pedaços.
Ele ocupa um lugar na prateleira sobre a minha cama, ao alcance da mão.
É uma das obras primas da ficção científica, com aquele toque ácido de crítica social.
Você é fútil, consumista, sensualista, e alienado?
Então, Aldous Huxley se inspirou em você.
A dependência de drogas veio dele mesmo.
Transcrevo abaixo alguns comentários de Maria Clara Corrêa Tenório (Advogada, Especializanda em Ciências Sociais - UEM), retirados daqui, e que traçam um paralelo (inevitável) entre Admirável Mundo Novo, Matrix e 1984, de George Orwell.
Ah, pode conter alguns spoilers...

"...
Nesse livro, o autor mostra sua visão do futuro e profetiza um mundo bem diferente do que existia em sua época. Para ele, em 1931 vivia-se o pesadelo da excessiva falta de ordem, enquanto a sua fábula no século VII d. F (depois de Ford) seria o pesadelo da ordem em demasia. Segundo ele próprio constata no seu Regresso ao Admirável Mundo Novo, escrito vinte e sete anos depois, em 1957, aquilo que ele imaginava num futuro distante, ou seja, as profecias feitas em 1931 já começavam a se realizar mais depressa do que ele pensava e “O abençoado intervalo entre a excessiva falta de ordem e o pesadelo da ordem em excesso não começou e não dá sinais de começar”. (HUXLEY, 1957: 16).

Como ressaltei, Huxley profetizou em Admirável Mundo Novo, uma civilização de excessiva ordem onde todos os homens eram controlados desde a geração por um sistema que aliava controle genético (predestinação) a condicionamento mental, o que os tornava dominados pelo sistema em prol de uma aparente harmonia na sociedade. Não havia espaço para questionamentos ou dúvidas, nem para os conflitos, pois até os desejos e ansiedades eram controlados quimicamente pelo “Soma”, sempre no sentido de preservar a ordem dominante. A liberdade de escolha estava restrita a poucas matérias da vida. As castas superiores eram decantadas em betas, alfas e alfas + e se originavam de óvulos biologicamente superiores, fertilizados por esperma biologicamente superior, recebendo o melhor tratamento pré-natal possível. Já as castas inferiores, bem mais numerosas, recebiam um tratamento diferenciado: provinham de óvulos inferiores, fertilizados por esperma inferior, passavam por um processo denominado Bokanovsky (noventa e seis gêmeos idênticos retirados de um só ovo) e eram “tratados prénatalmente, com álcool e outros venenos proteínicos”. (Huxley, 1957: 39)

Pontos convergentes são encontrados no recente filme de ficção científica Matrix, que explora a perspectiva futurista numa dimensão virtual. Nessa “fábula” moderna, os indivíduos também são decantados de incubadoras, mas tudo se passa na mente humana. A realidade não existe, pois tudo torna-se virtual. Os homens gerados nas incubadoras são meio-máquinas, como as castas baixas do Admirável Mundo Novo, assimilam conhecimentos através de programas de informática avançada. Porém, há uma inversão: não são mais as máquinas que são programadas pelos homens e sim, os homens é que estão sujeitos à dominação da máquina, dos robôs e são mantidos alheios a essa realidade. O filme faz-nos questionar se nosso mundo é real ou se já estamos vivendo um mundo imaginário na mente de algum computador central.

A meu ver, constitui-se numa superação do Admirável Mundo Novo de Huxley. Nessa visão, o mundo organizado e perfeito não prescinde de conflitos existenciais e frustrações, guerras e embates sociais. Em Matrix um dos robôs andróides explica que a experiência de se evitar qualquer frustração nos homens não tinha dado certo e por isso fôra criada uma nova Matrix, melhor elaborada, que abrigava inclusive os problemas, as guerras, as falhas, as frustrações, as dores humanas. Incrivelmente, satisfaz-se até a “necessidade” de frustração, entendida também como uma necessidade humana. Para que as pessoas não percebam que aquela é apenas uma realidade virtual, criada pelos computadores todos são levados a um estado de semi-consciência do real que lhes induz a ver o imaginário como real. É como se estivemos sonhando ou tendo um pesadelo sem fim. Só alguns poucos mortais fogem a esse padrão e tentam subverter a ordem estabelecida. Sendo constantemente perseguidos e severamente castigados.

O que difere Matrix da “fábula” de Huxley é que lá o mundo não mais está sendo governado por homens e sim por máquinas robôs, tendo como sua matriz, o computador. Todos vivem dentro de uma ordem estabelecida, mas não por alguns homens em detrimento dos outros e sim pelo computador que governa quase todas as mentes humanas. Entretanto há um aparente caos, enquanto que nessa última o caos foi quase todo eliminado, o mundo civilizado dominou o mundo selvagem.

Essas “fábulas científicas” atuais e antigas guardam entre si um ponto de comunicação: todas apontam para uma desumanização do homem, uma morte do indivíduo, embora de pontos de vista diferenciados.

Se o futurismo de Huxley nos faz refletir sobre os caminhos da nossa civilização, afinal, sete décadas se passaram, muito coisa mudou, algumas “profecias” tornaram-se realidade, (é o caso da concepção de proveta e dos vários sistema de condicionamento), Matrix nos apresenta o avesso da civilização, num mundo onde o real e o virtual se confundem e nos alerta para os perigos que a revolução informática e robótica pode gerar. Um mundo onde o homem deixa de ser senhor de sua história e deixa-se controlar pela máquina que ele mesmo criou.

Ambos têm em comum a dominação do espírito humano que no Matrix é a absorção e criação total da mente humana e no Admirável Mundo Novo é perda total da individualidade pelo coletivo, determinada por fatores genéticos e condicionamento constante, controlada pelos donos do poder. A repressão ao elemento subversivo é fundamental nos dois mundos para sua manutenção, garantindo o equilíbrio.

Outras realidades sequer sonhadas por Huxley vieram à tona, já citamos a revolução informática, a internet que alterou profundamente o sistema de comunicações no planeta e na própria genética. Nesse sentido, Matrix inovou, trouxe a discussão de Huxley à tona adaptada à realidade presente ao enfocar o mundo virtual.

No campo genético, as atuais descobertas científicas deixariam Huxley, talvez não admirado, mas no mínimo perplexo com os rumos tomados pela ciência. O avanço no campo genético da produção de sementes é incrível! Isso já era abordado em outro livro que li, do qual me recordo somente o título “Os Dentes Brancos da Fome” que discutia a problemática das sementes híbridas, sua comercialização mundial controlada por monopólios, e sua utilização como arma nos estados de guerra. A história ocorreria em 1981 e como 1984 de Orwell, outra obra futurista, suas terríveis profecias, não se concretizaram na época prevista.

Hoje a discussão centra em torno dos alimentos transgênicos e dos remédios genéricos. Mas a descoberta revolucionária do século talvez seja a decodificação da cadeia de DNA, que concedeu o Prêmio Nobel da Ciência aos seus cientistas, ou seria o fenômeno “dolly”? O clone? Embora Huxley pudesse ter previsto a reprodução humana em série através de heugenia e do seu contrário, produzindo um número considerável de gêmeos idênticos, ele não previu a clonagem. A reprodução de um ser vivo a partir de células aleatórias em outro ser vivo portador das mesmas cargas genéticas do primeiro. Isso já é possível devido às novas descobertas da reengenharia genética, que envolveram os estudos sobre o DNA.

As novas descobertas se sucedem e já não se pode, a meu ver, falar em “descoberta do século”. O século todo tem sido uma sucessão de descobertas e conquistas humanas. Da fabricação da bomba H, que Huxley só veio a conhecer bem depois da edição do Admirável Mundo Novo, temos uma sucessão de acontecimentos: o homem pisou na Lua, desvendou parte do universo através dos satélites, realizou missões a planetas distantes através de sondas. Chegou a Marte. As guerras modificaram o perfil da história e hoje vivemos mais do que nunca o terror da destruição total, da guerra nuclear, que não se resolve com as políticas internacionais de desarmamento nuclear.

Vivemos na era da informática e da robótica e o Planeta Terra transformou-se, como dizem, numa “aldeia global” com os avanços da internet. Contraditoriamente, não conseguimos dialogar com as pessoas com quem vivemos, com nossos vizinhos. O homem torna-se cada vez mais solitário. A internet eliminou distâncias, porém, não superou o preconceito, as diferenças sociais gritantes, os conflitos étnicos, as lutas e classe e pelo poder.

No Retorno ao Admirável Mundo Novo, Huxley retoma algumas de suas hipóteses sobre o futuro que não podemos deixar de considerar. Ao perceber a rapidez com que elas estão ocorrendo já em 1957, ele se assusta, afinal sua “fábula futurista” ou “profecia” deveria ocorrer no VII século depois de Ford!

No entanto, esse segundo livro é bem mais que um retorno a sua obra, é uma análise da civilização humana e da sociedade contemporânea através da percepção da utilização das várias descobertas científicas e das experiências desenvolvidas no decorrer de quase três décadas. No prólogo o autor nos informa que se propõe a discutir o problema da liberdade e da individualidade humana, que vê ameaçada.

Se a questão central é a liberdade, ela será abordada, segundo ele, com certa superficialidade correndo o risco de ficar incompleta, nesse seu livro, sob três óticas: a superpopulação, a super-organização, que conduz à impessoalidade; e as várias formas de condicionamento humano, para ao final questionar sobre as saídas possíveis, dentre elas a educação para a liberdade.

O autor começa dizendo que a base dos problemas tem caráter biológico. Há um controle da mortalidade, mas é muito difícil um controle da natalidade. Huxley parece convencido de que é necessário um controle da natalidade mundial para evitar a falta de alimentos futura. Reporta-se ao seu Admirável mundo novo para exemplificar uma possível, porém questionável, solução para o problema:

“No Admirável Mundo Novo da minha fábula o problema do número de seres humanos na sua relação com os recursos naturais, foi efetivamente resolvido. Foi calculado um número ótimo para a população mundial e a totalidade da população ia sendo mantida nesse nível (um pouco abaixo de dois bilhões, se bem me recordo), geração após geração. No mundo atual o problema não foi resolvido”(HUXLEY, 1957: 25)
Em 1957 quando o autor escreveu seu segundo livro a humanidade beirava dois bilhões e oitocentos milhões de homens, hoje já passamos de seis milhões. Em uma década a humanidade cresceu 1/5, isso já era previsto por Huxley e o angustiava. Além da falta de alimentos e escassez de recursos naturais o autor preocupava-se com a desumanização que pode transformar a humanidade em massa passiva nas mãos de “ditadores” e “ditaduras totalitárias”, uma afronta, na sua concepção, aos regimes democráticos.

Segundo ele “É contra este sinistro pano de fundo biológico que todos os dramas políticos, econômicos, culturais e psicológicos do nosso tempo se desenrolam”. (Huxley, 1957: 26) Acreditava que a Era Espacial não iria resolver o problema de superpopulação e que não resolvido este problema todos os outros seriam insolúveis.

Hoje, na virada do século, também nós não temos uma idéia clara do que seria a povoação dos outros planetas. A tecnologia avançou, mas ainda não possibilitou empreender tamanha façanha. Estamos adormecidos para os problemas gerados pela degradação do meio ambiente, embora surjam inúmeros grupos ecológicos. Por outro lado, fica a pergunta: quais os limites da liberdade humana ? Se temos que pagar um preço quem deve começar? O controle da natalidade é necessário, mas quem vai abrir mão do direito à fertilidade ? Recorreríamos ao pesadelo do Admirável Mundo Novo, para nos espelhar e construir uma civilização, onde a maioria dos seres humanos fossem estéreis? Aos nossos olhos parece abominável conceber tal civilização. Ou será que não? Ou será que nossos bisnetos, quem sabe até mesmo nossos netos, não vão encarar isso como normal ? Seria um retorno às teorias darwinistas ?

Huxley nos oferece uma visão geral das razões da estreita correlação entre gente em excesso, gente que se multiplica rapidamente, a formulação de filosofias autoritárias e o nascimento de sistemas totalitários de governo. A mim essa explicação não convence porque está recheada do determinismo de Darwin.

Para ele:

“Nem todas as ditaduras surgem da mesma maneira. Há muitos caminhos que vão dar ao Admirável Mundo; mas, o mais direto e mais amplo de todos eles talvez seja o caminho por que tomamos agora, o caminho que passa por entre números gigantescos de seres humanos e seu aumento acelerado”. (HUXLEY, 1957: 28)
Citando alguns dados que, segundo ele, apontam para essa sua constatação, diz entre outras coisas que, a melhoria das condições de vida nos países “subdesenvolvidos” gera outro problema, que é a insatisfação de novas necessidades e que nesses países não há capital disponível para investimentos na produção agrícola e industrial, na educação, na cultura, embora neles a população tenda a aumentar gradativamente em proporções alarmantes, gerando conflitos que levarão o governo desses países a uma concentração cada vez maior de poder.

E justifica:

“A superpopulação conduz à insegurança econômica e à intranqüilidade social. Intranqüilidade e insegurança conduzem a maior controle por parte dos governos centrais e a um aumento do poder deles. Na ausência de uma tradição constitucional, este poder reforçado será provavelmente exercido de forma ditatorial”. (HUXLEY: 1957: 32-33)
É uma suposição, mas não a única. Se assim fosse, os rumos políticos de nossa história teriam sido outros. Huxley acreditava que: “O problema da relação entre o número total de seres humanos, que aumenta rapidamente, os recursos naturais, a estabilidade social, e o bem-estar dos indivíduos, - é agora o problema central da humanidade” (HUXLEY, 1957: 26)

Mas nos parece que ele, agora já tendo vivido a experiência do nazismo e do stalinismo, preocupa-se mais com a possibilidade de uma ditadura totalitária, não nos moldes semi-violentos do Admirável Mundo Novo, mas semelhante à obra 1984 de Orwell, com a qual estabelece comparações. Ele descarta a possibilidade dessa última via ser seguida pela humanidade, pois segundo ele:

“A recente evolução na Rússia, e avanços recentes no campo da ciência e da tecnologia retiraram ao livro de Orwell uma parte da sua horrenda verossimilhança. Mas sustentando neste momento que as Grandes Potências podem abster-se algum tanto de nos destruírem, é lícito dizer que tudo se apresenta agora como se todas as vantagens pareçam mais a favor de algo como o Admirável Mundo Novo do que de algo como 1984”. (HUXLEY, 1957: 18)
Para reforçar a idéia ele lança mão dos conhecimentos sobre o comportamento humano, que demonstra que:

“O controle do comportamento indesejável por intermédio do castigo e’menos eficaz, no fim das contas, do que o controle por meio de reforço do comportamento desejável mediante recompensas.”(HUXLEY, 1957: 18)
Pois, “...a punição trava temporariamente o comportamento indesejável, mas não suprime definitivamente a tendência da vítima a sentir-se bem ao comportar-se desse modo.” (idem)

Estabelecendo uma relação entre os dois mundos imaginários Huxley retrata-os sinteticamente:

“A sociedade descrita no ‘1984’ é uma sociedade controlada quase exclusivamente pelo castigo e pelo medo do castigo. No mundo imaginário da minha própria fábula, o castigo não é freqüente e é, de um modo geral, suave. O controle quase perfeito exercido pelo governo é realizado pelo reforço sistemático de comportamento desejável, por numerosas espécies de manipulação quase não-violenta, tanto física como psicológica, e pela estandardização genética”. (HUXLEY, 1957: 19)
O Huxley sob a influência do espírito anticomunista que se instalou após a segunda guerra mundial tem uma posição totalmente contrária ao comunismo expressa, a seguir:

“E a crise permanente é o que temos a esperar num mundo em que a superpopulação está a produzir um estado de coisas em que a ditadura, sob os auspícios comunistas, se torna quase inevitável”. (HUXLEY, 1957: 35)
Essa posição avessa vai aparecer em todo o Retorno. Será seu principal exemplo, com o qual fará inúmeras relações ao estudar o desenvolvimento do jovem ditador e das novas ditaduras.

Sua obra manterá uma posição crítica desfavorável ao sistema soviético, expressa em inúmeras passagens, mas contundente nesta:

“Na Rússia, a ditadura fora de moda, estilo 1984, de Estaline, começou a dar lugar a uma forma mais atualizada de tirania. (...) O sistema soviético combina elementos de 1984 com elementos que profetizam o que se passava entre as castas mais elevadas no Admirável Mundo Novo.” (HUXLEY, 1957: 20-21)
Muita coisa mudou depois da publicação de seu Retorno. Ele escrevia em plena guerra fria. Com as duas Alemanhas divididas e uma Rússia forte, fazendo frente ao poderio econômico americano. Estava na moda criticar o regime comunista russo. Não podemos nos esquecer, que apesar de Huxley ter uma visão além de seu tempo, foi um homem em seu tempo. Não havia a Guerra da Vietnã, do Golfo Pérsico, a queda do muro de Berlin, não se esperava a fragmentação da Rússia, a guerra das etnias na antiga Rússia favorecendo ainda mais o interesse de uma hegemonia americana. Não se havia estabelecido o Mercado Comum Europeu, com a União Européia, fatos históricos imprevistos que modificaram a geografia e a política da Europa, sem falar nas inúmeras revoluções acontecidas nas últimas décadas nos “países subdesenvolvidos”, para usar uma expressão do próprio Huxley. Enfim, não chegou a acontecer, como ele havia apostado em 1957:

“... daqui a vinte anos, todos os países subdesenvolvidos e superpovoados do mundo estarão sob uma forma de domínio totalitário – provavelmente exercido pelo Partido Comunista”. (HUXLEY, 1957: 33).
O autor do Retorno reconhecia que o Ocidente dependia, como ainda hoje depende, dos países periféricos para suprirem suas necessidades se e alertava que se as ditaduras futuras lhes fossem hostis eles teriam que arcar com as conseqüências de possuírem demasiada população num território demasiado pequeno.

Huxley não aprofunda o raciocínio em termos econômicos, dá apenas algumas pistas. Seu raciocínio ficou quase inteiramente restrito ao campo científico. Trabalha nos seus capítulos subseqüentes todos os mecanismos existentes em seu tempo, que poderiam levar ao condicionamento humano e à dominação da civilização humana por ditaduras autoritárias.

Porém, a ciência, como o próprio autor vislumbra, não é apolítica, tem sido usada para favorecer os interesses dos dominantes. Estamos longe da República de Platão, governada pelos cientistas em prol da humanidade. Embora se posicionando contra toda forma de autoritarismo, o autor não faz nenhum questionamento mais sério sobre as profundas divisões estruturais do trabalho, coaduna com elas. Tanto é verdade que aventa a possibilidade de tratamentos diferenciados para os países do terceiro mundo, ou subdesenvolvidos. Denota-se que sua preocupação básica é com o ocidente e os riscos e uma ascensão Russa:

“Se a superpopulação conduzir os países subdesenvolvidos ao totalitarismo, e se essas novas ditaduras se aliassem com a Rússia, então a posição militar dos Estados Unidos tornar-se-ia menos segura e os preparativos de defesa e retaliação teriam de ser intensificados. (...) e a crise permanente é o que temos a esperar num mundo em que a superpopulação está a produzir um estado de coisas que a ditadura, sob os auspícios comunistas se torna quase inevitável”. (HUXLEY, 1957: 35)
Voltemos ao capítulo dois do seu Retorno. Nele o autor recorda o controle de natalidade adotado em sua “fábula” Admirável mundo novo. Lá os indivíduos eram gerados numa série de frascos (provetas), originários de óvulos de acordo com as castas a que pertenciam, e sofriam desde o começo da vida uma espécie de separação biológica por classes. Huxley, parece concordar com uma espécie de classificação da espécie humana quando critica a falta de uma política global de controle de natalidade, associando a superpovoação ao declínio da raça humana.

Podemos depreender isso de suas própria palavras:

“Nesta segunda metade do século XX, nada fazemos com caráter sistemático pela nossa procriação; mas, com o nosso modo ocasional e irregular, estamos não somente a superpovoar o nosso planeta, mas também, parece, procedendo seguramente para que estas massas de população cada vez maiores, sejam das mais pobres de qualidade biológica”. (HUXLEY, 1957: 40)
E continua, associando declínio da saúde média, subdesenvolvimento, superpovoamento à ausência de democracia, fazendo suas as palavras do Dr W. H. Sheldon:

“E a par com um declínio da saúde média bem pode ir um declínio na inteligência média. Na verdade algumas autoridades competentes estão convencidas de que tal declínio já ocorreu e está a continuar. ‘Sob condições que são fáceis e irregulares’, escreve o Dr. W. H. Sheldom, ‘as nossas melhores camadas tendem a ser subvertidas por outras que lhes são inferiores sob todos os aspectos...’ (...) Num país subdesenvolvido e superpovoado, onde quatro quintos da população recebe menos de duas mil calorias por dia e um quinto goza de uma dieta adequada, podem as instituições democráticas nascer espontaneamente? Ou se fossem impostas de fora, ou de cima, poderiam sobreviver? ”. (HUXLEY, 1957: 41)
Não podemos deixar de nos questionar, enquanto pertencentes um país “subdesenvolvido”, qual seria o seu paradigma para diferenciar “camadas superiores” da população de “camadas inferiores”? Não estaria aí implícita a idéia de raças superiores e inferiores? O ideal de Hitler que ele abomina? O autor faz-se questionamentos e aponta para dilemas éticos que só exprimem ainda mais seu tom sectário ao questionar.

O fato é que o autor do Retorno associa superpopulação com impossibilidade de gestação da Democracia. Chega a ridicularizar aqueles que pensam numa transformação social que leve a sociedade a uma maior harmonia pela via da solidariedade. Ele trabalha a lógica do capital e condena essa lógica por aquilo que tem de mais vil que seria o privilégio de poucos em detrimento de muitos, mas cristaliza as relações internacionais da forma que se apresentam na ordem mundial dominante. Talvez por acreditar cegamente que a democracia nos moldes americanos era o melhor.

Ele propõe-se um questionamento ético, nascido da inversão do problema moral: se os bons fins não justificam os maus meios, os bons meios justificam os maus fins? Seu questionamento não deixa de estar impregnado de um certo preconceito darwinista, como já afirmamos:

“E que dizer acerca dos organismos congenitalmente insuficientes, que a nossa medicina e os nossos serviços sociais agora preservam, de modo tal que eles podem propagar a sua espécie? Ajudar os desafortunados é obviamente bom. Mas, a transmissão maciça, aos nossos descendentes, dos resultados das mutações desfavoráveis, e a contaminação progressiva da reserva genética de que os membros da nossa espécie terão de beber, não é menos obviamente mal” (HUXLEY, 1957: 43)
Mas, como se a história dos homens não fosse a história da luta de classes e não se desse em bases materiais, a solução de Huxlley seria a “via média”. O autor deixa no ar o que venha a ser isso. O que surpreendente numa obra futurista que disseca sob muitos aspectos as estruturas germinais de uma dominação de massas que culminaria com a perda total da liberdade e autonomia humana, com a desumanização ou robotização do ser humano, é que ela não questiona em nenhum momento a posição dos vários países em relação aos outros, a hegemonia de umas nações sobre outras.

No capítulo 3 de seu Retorno, o autor discute mais a fundo a super-organização. Como tudo tem seu preço, o homem do Ocidente, não a civilização humana como um todo, terá que pagar pelo progresso técnico que conquistou. Ele acreditava que na virada do século o a maioria da humanidade estaria tendo que escolher entre a anarquia e o controle totalitário. Essa “profecia” não se concretizou, a queda do Muro de Berlim nos faz pensar que isso hoje, não será mais possível.

No entanto, Huxley é atual ao refletir sobre a falência dos pequenos diante dos grandes e a quantidade de poder que se concentra gradativamente nas mãos de poucos, como fator preocupante. Tomemos os oligopólios e os quartéis que têm sido formados pelas empresas multinacionais. Huxley atribuía essa concentração à tecnologia moderna:

“Vemos, pois, que a tecnologia moderna tem conduzido à concentração do poder econômico e político, e ao desenvolvimento de uma sociedade controlada (implacavelmente nos estados totalitários, polida e imperceptivelmente nas democracias) pelo Alto Negócio e pelo Alto Governo.”(HUXLEY, 1957: 51)
Nas suas palavras...

“Física e mentalmente, cada um de nós é único. Qualquer cultura que, no interesse da eficiência ou em nome de qualquer dogma político ou religioso, procura estandartizar o indivíduo humano, comete um ultrage contra a natureza biológica do homem” (HUXLEY, 1957: 53)
Voltemos ao Admirável Mundo Novo e vislumbremos aqueles operários estandartizados em castas, cujos inferiores são semi-humanos e gêmeos trabalhando nas fábricas sempre indiferentes a sua sorte, tranqüilizados pelo “Soma”.

Não queremos crer que isso possa ser possível em nossos dias, mas as pesquisas genéticas avançaram. É assustador, mas dispomos de tecnologia e de conhecimentos científicos que tornam perfeitamente provável a fabricação dessa espécie de “semi-homem”, que tanto horrorizou o Selvagem, no Admirável Mundo Novo. O clone é uma realidade a nos pesar sobre as cabeças. Faz-nos questionar até que ponto podemos ir ? Quais os limites do homem? O biologicamente possível é eticamente correto? São debates éticos que se travam nos meios científicos, mas aos quais não podemos, embora leigos, ficar alheios.

Como Huxley podemos criticar a “vontade de ordem”, esse desejo de gerar harmonia, essa espécie de instinto intelectual, impulso primário e fundamental do espírito que “pode transformar tiranos aqueles que aspiram meramente a desfazer a confusão” reinante.

Huxley nos indica que a organização ao extremo pode ser fatal para a liberdade que nasce da “comunidade auto-regulamentada de indivíduos que cooperam livremente”. Pois sufoca o espírito criador e elimina a própria possibilidade da liberdade.”(HUXLEY, 1957: 56)

Ainda nesse capítulo Huxley define o homem como um ser moderadamente gregário, portanto, não completamente sociável. Por isso “a civilização é um processo “pelo qual os bandos primitivos são transformados num análogo, grosseiro e mecânico, às comunidades orgânicas dos insetos sociais”. E assim, “por mais funda que seja a tentativa, os homens não podem criar um organismo social, apenas podem criar uma organização”. (HUXLEY, 1957: 58)

E mais uma vez em sua obra, surgem as diferenças entre o Admirável Mundo Novo e 1984 de Orwell. É o próprio Huxley quem as determina. Na sociedade em guerra de 1984, o objetivo primeiro dos governantes é o de exercer o poder para seu gozo e em segundo lugar, manter os seus súditos num estado de tensão constante, sexualmente os membros do Partido são levados à abstinência, enquanto no Admirável Mundo Novo qualquer pessoa tem o direito de satisfazer os seus desejos sem constrangimento, pois a guerra foi eliminada e o primeiro objetivo dos que conduzem a sociedade é impedir que os súditos causem quaisquer perturbações. Conclui-se então que “Em 1984 o desejo de poder é satisfeito infringindo-se o sofrimento; no Admirável Mundo Novo, infringindo um prazer pouco menos humilhante”. (HUXLEY, 1957: 62)

Como já vimos Huxley claramente prefere este segundo modelo. E para nós, qual é a pior forma de dominação? Aquela visivelmente violenta ou a camuflada? São as nossas contradições presentes.

Huxley desvenda a propaganda numa sociedade democrática, demonstrando como ela pode ser extremamente manipuladora. Estabelece a diferença entre a propaganda racional e a irracional. Na sua opinião, a primeira conduz à reflexão, à consciência e à verdade, a segunda utiliza-se das paixões cegas, dos medos inconscientes do expectador para, através da mentira para engana-lo.

Mas para ele, a comunicação com as massas, “não é boa nem má, é simplesmente uma força” que pode ser bem ou mal usada.

Daí os processos de censura políticos e econômicos serem semelhantes em seus fins:

“No leste totalitário há uma censura política, e os meios de comunicação com as massas são controlados pelo Estado. No Ocidente democrático há a censura econômica e os meios de comunicação com as massas são controlados pela ‘elite do Poder’”.(HUXLEY, 1957)
O problema detectado por Huxley é que a indústria da comunicação já não se ocupa nem com a verdade, nem com o falso, mas com o irreal. E mais uma vez recorremos ao Admirável Mundo Novo onde “as distrações ininterruptas da mais fascinante natureza são deliberadamente usadas como instrumentos de governo, com o objetivo de impedirem o povo de prestar demasiada atenção às realidades da situação social e política”. (HUXLEY, 1957: 82)

O Selvagem, personagem do Admirável Mundo Novo resgatado de uma reserva de “pré-civilizados”, percebe isso com nitidez, pois olhando aquela civilização de fora tem condições de detectar o que os seres extremamente condicionados não vêem. Daí sua revolta e tentativa de “liberta-los” do “soma”.

Ao tratar da propaganda sob uma Ditadura, ele assevera que o sistema totalitário, no período de moderno desenvolvimento, pode dispensar os homens altamente qualificados que pensam e agem livremente, graças aos modernos meios de comunicação de massa. “O Grande Irmão pode ser agora tão onipresente como Deus.” (HUXLEY, 1957: 89)

O autor fala do “veneno gregário”, uma droga ativa e exultante utilizada e explorada por Hitler “em proveito dos seus próprios objetivos”. (HUXLEY, 1957: 95)

Sobre a estratégia de Hitler, que inspirou outros ditadores, Huxley é ferrenho:

“Hitler explorava e utilizava sistematicamente os temores e esperanças secretas, os desejos, as ansiedades e frustrações das massas Alemãs”(...) induziu as massas alemãs a comprarem elas próprias um Fueher, uma filosofia insensata e a Segunda Guerra Mundial”.(HUXLEY, 1957: 96) .
Porém se define com uma fina percepção a estratégia de Hitler, Huxley peca ao considerar toda a filosofia contrária ao capitalismo no mesmo nível. Confunde dogmatismo e ideologia igualando a Escolástica, ao Fascismo e ao Marxismo.

Com atualidade o autor desvenda admiravelmente, em algumas páginas, a linguagem simbólica utilizada nos comerciais, que visam atingir o ponto fraco de seu público alvo, principalmente no campo da propaganda política. “Os vendedores de política apelam apenas para a fraqueza dos eleitores, não para sua força potencial” (HUXLEY, 1957: 122)

...

Huxley discutia os limites da mente humana e a carga emocional que o homem sensível, mediano ou forte suportariam. Os métodos utilizados para dominação humana, segundo ele, combinariam violência e habilidade de manipulação psicológica. Essa pressão pode ser revertida?

Persuasão química. Persuasão subconsciente. O que podemos fazer?

Voltando às ideais iniciais deste texto. Olhando o presente, podemos imaginar o imenso potencial de que dispõe a civilização humana, em termos de avanços tecnológicos. E o futuro não está distante, como poderíamos supor. Segue sua corrida vertiginosa, vencendo o tempo.

Como Huxley e tantos outros, tentamos imaginar a civilização do futuro. Desse modo, é impossível não deixar de se questionar: E o futuro? Será o pesadelo da excessiva falta de ordem, em que, ainda, vivemos ou da ordem em excesso da “fábula” de Huxley? Será o mundo virtual de Matríx, ou ditatorial de 1984 ? Ou talvez, “o nada”? A extinção da raça humana numa guerra nuclear? O horror ao “novo mundo” pode nos conduzir ao desespero e ao suicídio, como nosso amigo Selvagem do Admirável Mundo Novo.

Mas, olhando as estrelas que despontam no horizonte, sempre poderemos nos tranqüilizar pensando que o “admirável mundo novo” é apenas uma fábula científica. Porém, são as próprias estrelas que nos dizem que tudo é passado. Quando chegamos a vê-las no céu, muitas já deixaram de existir. Assistimos sempre ao filme reprisado do universo. Será este na realidade, um pesadelo virtual? "

Bibliografia
HUXLEY. ALDOUS. Admirável Mundo Novo.São Paulo, Globo, 2000.
Retorno ao Admirável Mundo Novo. Lisboa, Edição "Livros do Brasil", s. d.

5.8.09

Coisas de mãe

Tem uma coisa que eu não consigo entender: o que faz o macho da espécie humana achar que pode ser um ogro grosseiro, estúpido e arrogante e, ainda por cima, querer o lugar de "macho-alfa" do território, que muitas vezes, nem é dele?
A Mãe Natureza é mesmo estranha...
Como todas as mães, ensina que o machismo (no sentido mais depreciativo, claro!) é o caminho certo para uma bem-sucedida mentalidade de qualquer-coisa-vale-mais-que-uma-mulher.
Depois, ainda tem gente que discorda quando a antropologia (ela, não eu), diz que a natureza fez o homem pra ser bígamo, tanto quanto um galo no terreiro.
Só que as dificuldades criadas pela cabeça de baixo nem sempre compensam o sossego da cabeça de cima.
Essa é a diferença.
Só que o ogro supra-citado não está em nenhum degrau evolutivo da nossa espécie.
Pode até ser um parente próximo dos pés-grandes...

Corações Petrificados

Cheguei na cidade no começo da madrugada, naquele horário que não tem ônibus pra lugar nenhum e você é obrigado a pegar um táxi, bandeira dois, claro, ou entrar num bar e esperar o dia amanhecer.
Óbvio que, sem pestanejar, fui de cara na segunda opção.
O bar no centro, aberto à noite, putas e bêbados-patrimônio, só podia ser daquela qualidade duvidosa que tanto me agrada.
Vi o balconista matar uma barata gorda e nojenta com o mesmo pano que ele enxugava uns copos.
Ri.
Pedi uma cerveja, long neck, pra não precisar de nenhum copo e me sentei numa das mesas do canto, de frente pra porta.
Um antigo hábito.
Automaticamente, uma puta horrorosa, que devia ser prima-irmã da finada barata, se sentou e começou com o papinho de sempre.
Não sei se foi a cara dela, ou as pernas sujas de sangue seco, a banguela, ou ainda, o cheiro de bueiro, que me causaram náuseas.
Eu já devia ter me acostumado, mas existem coisas que ninguém, mas ninguém mesmo, se acostuma.
Aquele tipo de degradação era uma delas.
Dispensei a aberração e me concentrei na minha cerveja.
De repente me dei conta de que a noite seria longa, pois um sujeito enorme, fedorento e sem os dentes da frente (mais um!), colocou umas vinte moedas na jukebox, e mandou ver um disco inteiro de forró-putaria!
Manda um conhaque, garçom!
Um copo seboso e trincado, e deixa a garrafa aqui na mesa...
Aqueles taxistas que não conseguiram pegar nenhum otário, sentados ao lado de policiais-comedores-de-coxinha e, entre uma dose e outra, riam juntos da tal lei seca.
Rostos.
Rostos esverdeados à luz fluorescente.
Cadáveres que riam e bebiam e cantavam.
Não havia nada ali.
Não havia vida, nem esperança.
Só desespero e solidão.
E morte.
O retirante desdentado, a puta-barata, barata aos vinte anos, os policiais semi-alfabetizados, os taxistas gordos e com problemas de colesterol, o balconista sonolento, e eu.
Um bando curioso.
Circo de aberrações.
Nada diferente de centenas de milhares de outros bares no mundo.
Milhões de antros onde os infelizes e patéticos sacos de carne podre, enquadrados nos livros de biologia do primário como “superiores por terem inteligência”, generalizados como seres humanos, envenenam suas veias, seus fígados, suas almas.
O desfile de corações petrificados.
Finalmente, as fichas da máquina acabaram, e pude ter um vislumbre do paraíso, materializado no silêncio.
Me levantei e coloquei uma nota. Não sabia ao certo o que escolher. As opções também não eram das melhores. Resolvi me sentar e deixar que a puta escolhesse.
E ela foi, saltitante como uma criança que ganha um balão colorido.
Pra ser sincero, não sei o que era quilo, se era música ou um novo método de tortura saída direto do inferno.
Me limitei a sorrir e erguer a garrafa de conhaque num brinde tosco, e matei o resto numa talagada só.
Bêbado.
O dia estava amanhecendo e eu tinha que ir.
Pra onde?
Sei lá!
Só caminhar.

Roberta Nunes
05/09/2008

Eclipse Lunar


Eu sempre fui muito fã das antigas religiões lunares, matriarcais, primitivas, passionais.
Nunca pratiquei, e não tenho lá muita vocação para cultos, mas acredito que havia mais respeito pela fé, pela religião, pelas tradições, pelo ser (self).
O texto abaixo é uma transcrição de uma página de horóscopo, que eu acho o clichê máximo do embuste, mas vale como diversão bizarra.
Tenho uma série de textos inspirados no zodíaco, quem sabe não crio vergonha na cara e posto aqui?
Bom divertimento...


Eclipse lunar
O mais importante a ser avaliado com relação aos eclipses é que podem ter resultados positivos, ao contrário do que achavam os antigos que os identificavam com tragédias e perturbações de toda ordem

3 de agosto - Mercúrio trígono Plutão
Bom momento para superar certos padrões arraigados de pensamento. O intelecto a serviço da transformação presta grande ajuda em processos terapêuticos e de autoconhecimento. Período favorável para quem estiver envolvido com educação, publicidade e outras atividades voltadas para a comunicação com grandes grupos. Se você deseja ter "aquela" conversa esclarecedora, vá em frente!

Eclipse da Lua - 5 de agosto às 21h55min em 13º43' de Aquário
Os eclipses lunares ocorrem sempre na fase cheia, pois é nessa ocasião que a Terra está posicionada entre o Sol e a Lua. O Eclipse Lunar provoca um confronto entre passado e futuro, com este tendendo a ser priorizado, ou seja, podemos ter a vontade de resolver os assuntos sem perceber suas causas. Hábitos, apegos e experiências baseadas em comportamentos já conhecidos devem ser observados para poderem ser trabalhados e oportunizar um crescimento.

O Eclipse Lunar traz sempre uma experiência de despertar e, geralmente, vem acompanhada de um acontecimento pouco comum, mas são as questões mais emocionais. Tanto o Eclipse Solar como o Lunar tende a uma inversão na polaridade de qualquer situação. E onde cai em nosso mapa vai inverter um processo, mudar uma situação. Então, o melhor é preparar-se e abrir espaço psíquico para o novo e excluir ou alterar o que precisa ser mexido.

Se o eclipse cair na cúspide (início) de uma casa astrológica, em conjunção ou oposição a um planeta ou ponto forte do mapa, os assuntos relativos a esses aspectos tendem a ficar na berlinda até que um novo eclipse da mesma natureza ocorra.

Isso fica mais evidente se a casa astrológica ou planeta já estiver sendo mexido por trânsitos e progressões, pois o eclipse é um catalisador que faz com que os acontecimentos apareçam com mais evidência. Mas o mais importante a ser avaliado com relação aos eclipses é que podem ter resultados positivos, ao contrário do que achavam os antigos que os identificavam com tragédias e perturbações de toda ordem.

Tudo o que foi descrito até agora pressupõe o conhecimento de seu mapa astrológico individual, mas há efeitos desse Eclipse Solar que podem ser vivenciados por todos, como o que vem descrito abaixo:

Este Eclipse está ocorrendo na polaridade Aquário/Leão, chamando atenção para sua autoestima e sua necessidade de liberdade. Os Eclipses Lunares são como uma Lua Cheia superintensa, ou seja, uma época emocional de maré elevada. Nos dias que seguem essa Lua, mas antes da Lua Nova seguinte, 20 de agosto, é bom continuar investindo no que já está em andamento, ou fazer mudanças que trarão uma sensação de mais conforto. Também é hora de dedicar-se a um objetivo, um projeto, um sonho.

Os sete dias após o início da Lua Cheia são favoráveis ao abandono de hábitos nocivos ao bem-estar físico e psíquico, às atividades sociais, à inauguração de espaços que visem ao grande público, à conscientização do que impede o crescimento, à comunicação de ideias novas e às atividades que exijam muito pique e energia.

A Lua Cheia é boa para iniciar atividades com grande número de pessoas e que contam com sua cooperação, mudança de casa ou da decoração, marcar eventos, pois a divulgação é rápida e eficiente.

Para quem quer engravidar essa é a Lua ideal, pois a fertilidade está no seu momento mais elevado.

O cabelo, quando cortado nessa Lua, aumenta de volume e os fios nascem mais fortes, porém crescem mais lentamente.

Não é o momento adequado para fazer cirurgias ou arrancar dentes, pois o risco de hemorragia e infecções é maior.

Cuidado ao dirigir porque há maior propensão a acidentes de trânsito.

O humor das pessoas fica alterado, as brigas são mais frequentes e as delegacias ficam com maior movimento.

8 de agosto - Mercúrio sêxtil Vênus
Mercúrio é melodia, Vênus, harmonia, e o resultado disso é uma comunicação inspirada. Bom momento para declarações de amor e reconciliações!

(na verdade, postei esse texto meio idiota e enorme só pra te fazer um convite: venha ver o eclipse comigo...)