27.3.08

Ode à Aphrodite

"Aphrodite em trono de cores e brilhos,
Imortal filho de Zeus, urdidora de tramas!,
Eu te imploro: a dores e mágoas não dobres,
Soberana, o meu coração,

Mas vem até mim, se jamais no passado,
Ouviste ao longe meu grito, e atendeste,
E o palácio do pai deixando,
Áureo, tu vieste,

No carro atrelado: conduziam-te, rápidos,
Lindos pardais sobre a terra sombria,
Lado a lado num bater de asas, do céu,
através dos ares,

E pronto chegaram; e tu, Bem aventurada,
Com um sorriso no teu rosto imortal,
perguntaste por que de novo eu sofria,
E por que de novo eu suplicava,

E o que para mim eu mais quero,
No coração delirante.
Quem de novo, a Persuasiva
Deve convencer para o teu amor? Quem,
Ó Psappha, te contraria?

Pois, ela, que foge, em breve te seguirá;
Ela que os recusa, presentes vai fazer;
Ela que não te ama, vai te amar em breve,
Ainda que não querendo

Vem, outra vez – agora! Livra-me
Desta angústia e alcança para mim,
Tu mesma, o que o coração mais deseja:
Sê minha Ajudante - em - Combates!


Safo de Lesbos

À Morte


Morte, minha Senhora Dona Morte,
Tão bom que deve ser o teu abraço!
Lânguido e doce como um doce laço
E como uma raiz, sereno e forte.

Não há mal que não sare ou não conforte
Tua mão que nos guia passo a passo,
Em ti, dentro de ti, no teu regaço
Não há triste destino nem má sorte.

Dona Morte dos dedos de veludo,
Fecha-me os olhos que já viram tudo!
Prende-me as asas que voaram tanto!

Vim da Moirama, sou filha de rei,
Má fada me encantou e aqui fiquei
À tua espera... quebra-me o encanto!

Florbela Espanca

(1894-1930)

Nota: Último poema escrito por Florbela Espanca, no dia 8 de dezembro de 1930, na sua última noite com vida.
Foi levada pelo suicídio.

3.3.08

"Vou deixar-te levar-me até à fecundidade da destruição.
Por isso me atribuo um corpo, um rosto e uma voz.
Eu sou-te como tu me és.
Cala o fluxo sensacional do teu corpo
e encontrarás em mim,intactos,
os teus medos e as tuas penas.
Descobrirás o amor separado das paixões e eu descobrirei as paixões privadas de amor.
Sai do papel que te atribui se descansa no centro dos teus verdadeiros desejos.
Por um momento deixa as tuas explosões de violência.
Renuncia à tensão furiosa e indomável.
Eu passarei a assumi-las."

Anaïs Nin - A Casa Do Incesto