26.10.07

o processo não pára nunca.
a mente sempre escrevendo um conto, um poema, um livro.
a mente sempre trabalhando, ruído de teclas.
furiosa.
tpm.
intensa.
medíocre.
legal, até.
quem sabe?
as letras dançando no universo.
interno.
útero.
hora de ir.
hora de amar.
hora do porre.

5.9.07

Cities in dust

Cada passo ressoando nos ouvidos.
Ele ia andando, cauteloso.
A chuva agora não passava de uma garoa irritante.
Não deu trela pro trombadinha que passou por ele.
Perto demais.
Perto o suficiente para saber que dali, bem, não tiraria nada.
Nunca se cansava da cidade.
Mas, merda, dessa vez, fora longe demais.
A filha do Chefe.
Clichê.
Como naquelas histórias noir que tanto gostava de ler.
Sam Spade.
Chandler.
Até Sin City.
Gostava do clima sombrio, das histórias sangrentas, do tédio, do fatalismo.
Tudo tão pungente como na sua própria vida.
Arremessou a garrafa long neck contra um carrão importado.
Crack.
Belo arremesso.
Belo estrago.
O berro do alarme assustou um enorme gato preto, que correu e cruzou seu caminho.
Bang.
Odeio gatos.
Sentiu os lábios ainda queimando, o corpo febril.
Ainda podia sentir o perfume da garota, estava na sua roupa, nas suas mãos, nos pelos crespos do peito.
Foi só uma hora.
Tempo suficiente para enlouquecê-lo.
Tempo suficiente para colocar sua cabeça à prêmio.
Ele sabia que toda a escória da cidade estaria em seu encalço.
Mais cedo ou mais tarde toparia com algum antigo companheiro.
Teria que se defender.
A garota maluca.
Ele poderia tê-la amado.
Poderia ser o novo Chefe, algum dia.
Ele estava tão doido de tesão que nem percebeu o quanto ela estava drogada.
O apartamento todo mergulhado num caos, comprimidos por todos os cantos, garrafas vazias pelo chão, cigarros de maconha, heroína, meu deus!, o suficiente pra colocar alguém atrás das grades por umas três encarnações consecutivas!
Ela queria silenciar as vozes.
Meteu uma bala na cabeça.
E usou a arma dele.
E só então se deu conta de que sua camisa estava manchada de sangue.
Tinha até uns pedacinhos de ossos e miolos.
Sentiu náuseas, apesar de já ter visto isso centenas de vezes.
Ele era um sobrevivente.
Já vira, ouvira, fizera coisas terríveis.
Já lutara em guerras.
Já matara muitas vezes.
Talvez, fosse melhor não se esconder.
Talvez, fosse melhor não abandonar a cidade que era seu lar.
Talvez, sobrasse algo dele para ser enterrado.
Chutou uma latinha de alumínio com certa surpresa, já que eram artigo raro nas ruas, e simplesmente continuou caminhando, sem rumo.


Roberta Nunes
05/09/2007


"We found you hiding we found you lying
Choking on the dirt and sand
Your former glories and all the stories
Dragged and washed with eager hands"

"Nós encontramos você esconde
Nós encontramos você mente
Sufocando na sujeira e na areia
Suas glórias anteriores e todas as histórias
Arrastado e lavado com mãos ansiosas"

Cities in dust
Siouxsie & The Banshees



31.8.07

é só varrer o lixo para debaixo dos...

Tapetes da vida.

Hoje, acho que fui cruel.
Direta demais.
Incisiva demais.
Ele disse adeus.
Eu disse foda-se.
Leva a porra do tapete com você.
Não tomo vinho, a garrafa virou caco na calçada do vizinho.
Prefiro conhaque. Gosto pior, ressaca pesada. Desperta os sentidos.
Acorda pra vida, cacete!
Limpar o sangue desse maldio tapete...
E as marcas do colchão.
Seu cheiro carunchado.
Pelos grudados no sabonete.
Camisetas de rock, panos de chão.
Último volume, Siouxie, baby...
Garrote na garganta, e chuveiro pingando.
Mãe, de onde vem o trovão?
Mãe, porque o sangue é vermelho?
Seja luar, meu amor.
Espalhe-se pela noite.
Escorra pelo ralo da banheira, e corra pelas sarjetas.

Roberta Nunes
01/06/2005

"Quem sabe depois desta existência
Renascerei - para duvidar ainda?!... "
( O devanear de um cético - Bernardo de Guimarães )

19.7.07



Napoleão Bonaparte.

Um cara comum, que assumiu um país sedento por revoluções.

Um herói.

Um déspota.

O que ele representa pra você?

29.6.07

Citações

"O unico erro de Deus foi nãoo ter dado duas vidas ao homem: uma para ensaiar, outra para atuar" (Vittorio Gassman)

"A verdade é sempre o álibi perfeito" (W. R. Burnett)

"Tudo que não é proibido e obrigatório" (Curzio Malaparte)

"Todo homem tem o sagrado direito de ser imbecil por conta própria" (Ivan Lessa)

"Há vários motivos para não se amar uma pessoa e um só para amá-la" (Carlos Drummond de Andrade)


Aí estão algumas citações ótimas, verdadeiras pérolas.



"Arranca-me do peito o coração exangue,
Que hei-de dar-te, em troca, os restos do meu sangue,
Para o negro festim da tua fome escura."
( Prece - José Duro )

27.6.07

A morte como sobremesa

Uma forma de mostrar amor, é morrer.
Eu acredito.
Mas morrer de um jeito bem bacana e romântico, como caminhar de encontro a uma lua cheia enorme e amarela, refletida num mar calmo e límpido.
Ou ainda num barato daqueles, numa viagem de drogas e bebida e troca de carícias e loucura sexual, numa orgia, línguas e mãos e secreções pra todo lado.
Na verdade, qualquer modalidade de morte serve, desde que tenha aquele toque teatral e exibicionista, uma carta explicando direitinho as coisas e se despedindo, uma rosa vermelha e umas gotas de cera de vela pra completar o drama.
Eu ainda não atingi esse nível de sensibilidade.
Claro que às vezes faço uma roleta-russa na rua, atravesso sem olhar só pra ver o que acontece, mas nunca me aconteceu nada.
A minha visão romântica da vida se limita a chamar essa porra de privada coletiva em que vivemos de “latrina”, e os montes de merda que bóiam nela de “dejetos”.
Espero ter estômago para, um dia, ter uma vida de comercial de margarina.
Acho que é isso que esperam de mim, expectativas de vida comuns, iguais aos outros.
Pontos de vista do que é melhor, maior e mais bonito.
Caralho, como isso cansa!
Acredito que é lícito (ops, outra palavra bonita...) desejar um belo porre, e encarar bravamente a ressaca que vem no dia seguinte.
Quem sabe, depois de uma noite de amnésia, eu não dê a luz a um avatar?
Quem sabe a morte me sorria, e me mande continuar andando, já que lá na frente, eu vou topar com ela de novo?
Ninguém está isento da solidão.
Ela é como a sombra nos dias ensolarados na praia.
Uma chama azul, gélida, daquelas que queimam efetivamente.
E transformam os sonhos em espectros, fantasmas que assombram os armários vazios de casas vazias.
E a morte romântica não basta para aliviar o amargor do xarope pra tosse.
E a vida cotidiana teima em tirar da ordem as rimas da poesia escrita com tanto sangue.
Me liga, amor, e vou pra junto de você, nem que seja por poucas horas.

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um certo homem interessante, com o olhar direto e moreno, sorriso assim, meio de lado, uma seriedade de Tuareg e andar de Dom Juan.
porte ilegal de pecado.
pudesse, me afogaria nessa tua boca salgada, pararia o trânsito, e que se danassem as buzinas invejosas do beijo enlouquecido, a língua dardejando, num ritmo de tambores e corpos, braços e força.
noite de lua crescente.
seus pelos suados, enroscados nos meus, um mar de suspiros e mordidas.
noite quente de inverno.
um sussurro numa língua estrangeira, ah, o gemido numa linguagem universal.
quero seus dentes.
coxas, seios, nádegas.
o espelho reflete seu olhar faminto e curioso.

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Roberta Nunes
27/06/2007

21.6.07

E o tempo passa



A terrível sensação de tempo desperdiçado.
Meu amor me beija.
Com vontade.
Com amor.
E eu sei que ele está comigo.
Quando?
O amargor da insatisfação.
Não sou eu!
E o gemido ficou entalado,
o gemido de dor e separação.
O punhal erguido,
e as costas sempre disponíveis,
braços abertos.
A boca sempre pronta para o beijo,
para o esporro,
para o grito.
O gosto do gozo e do fel.
Uma viúva-negra no travesseiro.
Um pêlo no sabonete, que vou guardar pra fazer mandinga, quem sabe...
Café da manhã com você,
geléia
e manteiga (que você queria usar pra fazer sacanagem).
Claro que eu te amo.
Claro que eu não vou tatuar seu nome.
Claro que você me ama, e tudo continua igual.
Vou tomar meu porre,
e te afogar numa dose dupla de vodka.
É isso que eu chamo de amor.
Pra sempre.
É tempo demais, baby.
Não tenha dó de mim.
Quando eu disser que dói, mete o punhal até o cabo.
A melhor maneira de dizer.
Um cansaço.
Cada vez como se fosse a última.
Sem boleros, nem franjas.
Uma dor tão aguda.
Sobrevivência.
I will survive
hey, hey.

Aprende que não importa em quantos pedaços seu coração foi partido, o mundo não pára pra que você o conserte.

Aprende que o tempo não é algo que possa voltar para trás.

Portanto, plante seu jardim e decore sua alma, ao invés de esperar que alguém lhe traga flores.
E você aprende que realmente pode suportar...
Que realmente é forte, e que pode ir muito mais longe...
Depois de pensar que não se pode mais.
E que realmente a vida tem valor e que você tem valor diante a vida!"
Manual de Sobrevivência - Willian Shakespeare


imagem do filme "Transpoitting"

14.6.07

Way



tenho, pra sempre, eu acho, o gosto de uma leve insatisfação na boca.
um resquício de beijo que ficou, e que nenhum outro se compara.
o fato é que não consigo lembrar.
one, quando, como.
se foi nessa, ou em outra vida.
uma busca coonstante me leva sempre a todos os lugares, e bocas.
testo os sabores, misturo com os aromas.
os cheiros de vida e sacrifícios e experiências.
os cheiros e gostos que o amor pode trazer.
despertar os sentidos, trazer à tona os sonhos mais estranhos.
não poderia deixar de ser.
essa busca é o que move a humanidade, eu acho.
e, claro, eu não pderia escapara dela.
tenho paixão.
e tenho medo de provar minha capacidade de amar.
e tenho sempre que mostrar que isso não é da minha natureza.
hoje o dia vai ser longo, e a noite me espera com mais uma bebida e estrelas.
e, quem sabe, um beijo furtivo no canto da boca de alguém, só esperando pelo meu chamado.
e a poesia não tem sido satisfatória, sempre parecendo incompleta e cansativa.
o trânsito segue, indiferente e o ruído, incessante.
procuro pelo beijo.
pela boca.
pelo copo.
uma taça, talvez, um belo cálice de prata.
um devaneio insano.
comum da minha natureza.
e o sorriso vem, com olhos cobertos, enrolado num cachecol roxo, nesses dias malucos de outono.

Os mastins negros vão ladrando a lua...
O Cairo é de uma formosura arcaica.
No ângulo mais recôndito da rua
Passa cantando uma mulher hebraica.
O Egito é sempre assim quando anoitece!
Às vezes, das pirâmides o quedo
E atro perfil, exposto ao luar, parece
Uma sombria interjeição de medo!
Augusto dos Anjos

4.6.07

já que não dá pra parar...

eu volto.
e não ligo se você vai ler.
ou se vai comentar.
sempre digo isso.
e é o suficiente pra me convencer.
outra hora coloco uma imagem bacana.
e rio do frio que a saudade crava sem dó no meu coração relativamente são.
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8.2.07

As pedras no caminho


Caminhar é fácil.
Um pé, depois outro.
Passo por passo.
Um de cada vez.
Tenho me rasgado.
Cortado a pele com lâminas finíssimas, exigentes.
Tenho sufocado meu gemido com mais força.
Tenho abafado meu grito com mais sadismo.
Cutelos enfeitam as paredes da minha mente.
Sombras estranhas nos vãos das portas...
A chuva cai fininha, molhando os cabelos, escorrendo pelo couro da jaqueta, tornando o peso do mundo ainda maior.
As botas enlameadas, e as folhas encharcadas grudando em tudo.
O gosto da chuva é ácido, acre, doce.
Os cheiros da rua me trazem você, graxa, fumaça, asfalto, pneus.
Não vejo a hora do inverno chegar, com dias claros e noites congelantes, tirar meu cachecol roxo do armário, e caminhar como se fosse a coisa mais correta a fazer.
Hoje é um dia qualquer, e você não vai estar no bar à noite, e vou ler o seu nome rabiscado na mesa, e a cerveja será como um alento, uma carícia, um sopro, pra me lembrar sempre do seu hálito durante as sessões de amor urgente e enlouquecido.
Assuntos inacabados, conversas descabidas, falo sobre generalidades, quando queria falar de amor.
A língua passeia pelos lábios arroxeados , beijados e mordidos pela boca quente de outro.
Afogo você em cada copo.
Te sangro em cada suspiro.
Exorciso o mal que brota em mim quando ouço seu nome.
Vou pro inferno?
Talvez.

Roberta Nunes
08/02/2007



Silent
Paradise Lost

After all wars
We lie, as shelter falls
The world is but hell
A place darkened out by time
Submit to the fall
Live in peace for years
Turn back the hands of time
Light shines before
As lives are torn
Morals slow decline
We'll live in cold fear
Until we lay dead
Silent our pleas
Search for the end


Silencie

Descansamos após todas as guerras
Enquanto o abrigo cai
O mundo é um inferno
Um lugar sombrio fora do tempo
Renda-se à derrota
Vivo em paz há anos
As luzes brilhavam antes
A vida se esvai
A moral se declina
Vamos viver num frio medo
Até morrermos, silencie nossos apelos
Procurando o fim

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30.1.07

Ainda sou fã...


das boas histórias de vampiro.
Mas, isso é raro hoje em dia.
Amanhã, posto um texto, e coloco o blog no ar de vez.
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Ok, vocês venceram

Esse meu blog pequeno, despretensioso e que era só meu, vai ser aberto ao público.
É isso aí.
Meus textos estarão aqui, disponíveis (somente para leitura, hein galera?) , assim como as imagens e os links legais que eu localizar por aí.
Se os visitantes vão gostar, não sei.
Também, não me importo muito.
Isso aqui continua sendo um espaço pessoal, parte integrante de mim.
Beijos a todos.
Ro, A Profana


Humm, posso te ligar a qualquer hora?

(Peter Steele - Type O' Negative)