27.6.07

A morte como sobremesa

Uma forma de mostrar amor, é morrer.
Eu acredito.
Mas morrer de um jeito bem bacana e romântico, como caminhar de encontro a uma lua cheia enorme e amarela, refletida num mar calmo e límpido.
Ou ainda num barato daqueles, numa viagem de drogas e bebida e troca de carícias e loucura sexual, numa orgia, línguas e mãos e secreções pra todo lado.
Na verdade, qualquer modalidade de morte serve, desde que tenha aquele toque teatral e exibicionista, uma carta explicando direitinho as coisas e se despedindo, uma rosa vermelha e umas gotas de cera de vela pra completar o drama.
Eu ainda não atingi esse nível de sensibilidade.
Claro que às vezes faço uma roleta-russa na rua, atravesso sem olhar só pra ver o que acontece, mas nunca me aconteceu nada.
A minha visão romântica da vida se limita a chamar essa porra de privada coletiva em que vivemos de “latrina”, e os montes de merda que bóiam nela de “dejetos”.
Espero ter estômago para, um dia, ter uma vida de comercial de margarina.
Acho que é isso que esperam de mim, expectativas de vida comuns, iguais aos outros.
Pontos de vista do que é melhor, maior e mais bonito.
Caralho, como isso cansa!
Acredito que é lícito (ops, outra palavra bonita...) desejar um belo porre, e encarar bravamente a ressaca que vem no dia seguinte.
Quem sabe, depois de uma noite de amnésia, eu não dê a luz a um avatar?
Quem sabe a morte me sorria, e me mande continuar andando, já que lá na frente, eu vou topar com ela de novo?
Ninguém está isento da solidão.
Ela é como a sombra nos dias ensolarados na praia.
Uma chama azul, gélida, daquelas que queimam efetivamente.
E transformam os sonhos em espectros, fantasmas que assombram os armários vazios de casas vazias.
E a morte romântica não basta para aliviar o amargor do xarope pra tosse.
E a vida cotidiana teima em tirar da ordem as rimas da poesia escrita com tanto sangue.
Me liga, amor, e vou pra junto de você, nem que seja por poucas horas.

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um certo homem interessante, com o olhar direto e moreno, sorriso assim, meio de lado, uma seriedade de Tuareg e andar de Dom Juan.
porte ilegal de pecado.
pudesse, me afogaria nessa tua boca salgada, pararia o trânsito, e que se danassem as buzinas invejosas do beijo enlouquecido, a língua dardejando, num ritmo de tambores e corpos, braços e força.
noite de lua crescente.
seus pelos suados, enroscados nos meus, um mar de suspiros e mordidas.
noite quente de inverno.
um sussurro numa língua estrangeira, ah, o gemido numa linguagem universal.
quero seus dentes.
coxas, seios, nádegas.
o espelho reflete seu olhar faminto e curioso.

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Roberta Nunes
27/06/2007

2 comentários:

  1. gostei, gostei, gostei, gostei, continue escrevendo neste bloguito, bem legal, gostei, gostei, gostei e gostei. bjos do botter.

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  2. "Eu ainda não atingi esse nível de sensibilidade."

    E honestamente espero que não atinja, Ro.

    Quero você viva.

    Beijos.

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