24.9.05

Ela caminhava.
Vinha pela rua, e tristeza resoluta no olhar.
Tinha um porte de princesa, altiva e segura, com brilho de pérola nos dentes, e orgulho estampado no sorriso, mas um quê de solidão no brilho do olho.
Não era ninguém, nada importante, nem indispensável na vida de quem quer que fosse.
Não se sentia dona de nada.
Era só, e só se mantinha, pra não doer depois, dizia.
Mas, lá no íntimo, ainda sonhava.
Queria um braço forte em torno da cintura fina, queria um beijo apaixonado, queria ser olhada como única, um tesouro, o sol.
Queria ainda sentir, sim, o peso de um homem sobre o corpo magro e bem-feito, entrelaçar as penas em pernas musculosas, emaranhar os cabelos em cabelos cacheados como os dela, e gemer junto com ele num dueto perfeito, uma vida inteira suspirada e misturada à saliva, num segundo de vida-quase-morte, em camas-terremotos.
O tempo, inimigo cruel e desumano, tirou essas coisas dela, os homens passaram por sua vida, e continuaram seus caminhos, buscando novas carnes e novas aventuras, e ela sorria seu sorriso de pérolas brilhantes, e sorria seu olhar triste.
E, assim caminhava Rita, mulher e linda, afilhada de Iemanjá, devota de grandes divindades e santas, pelas ruas de uma cidade qualquer.
Uma mulher comum, como tantas que cruzamos por aí, com seus amores e sorrisos complacentes, e cabelos ao vento, e lágrima que não escorria pelo rosto marcado pela vida, mas brotava direto da alma, do ventre, do vazio da solidão.

Roberta Nunes
25/09/2005

p.s.: Pessoal, esse texto é uma pequena experiência, num estilo diferente do meu habitual.
beijos a todos.

17.9.05

...e no princípio...

O Começo.
Pois é.
Cara, como isso é difícil!
Quer dizer, eu aqui, sendo lida por vocês.
Ok, pedante, eu sei.
Mas, é isso mesmo.
Eu vejo seus olhos ávidos, ah, sim, ávidos, exatamente como os meus ao ler neste espaço.
Lendo estas linhas, vocês procuram algo?
Emoção, talvez?
Lascívia, quem sabe?
Uma frase que lhes cause algum tipo de sensação inesperada...?
Identificação?
Pode ser.
Pode ser que eu consiga isso, é o meu objetivo, sabem?
Não existe texto, poesia, prosa-poética ou crônica, "sem pretensão".
E é ainda mais difícil falar sobre isso, já que é um assunto tão batido!
Um ponto de vista é sempre UM ponto de vista, não?
Eu escrevo há pouco tempo, embora leia desde sempre. Uma auto-didata compulsiva por leitura ( Dóris, também li muita bula de remédio e rótulo de xampu), viciada em conhecimento e amante de vários estilos literários e autores diversos.
Vocês me perguntam: o que isso tem a ver com a gente? o que isso tem a ver com seu texto de domingo n'Os Cronistas?
Nada, talvez.
Mas, acho que tudo, na verdade.
Eu achei que seria delicado começar me apresentando, dizendo quem sou e como fiquei assim.
Muito prazer, meu nome é Roberta Nunes, e postarei aqui aos domingos, faça chuva, sol, com ou sem vitórias do timão.
Um abraço a todos.
Ufa!