24.9.05

Ela caminhava.
Vinha pela rua, e tristeza resoluta no olhar.
Tinha um porte de princesa, altiva e segura, com brilho de pérola nos dentes, e orgulho estampado no sorriso, mas um quê de solidão no brilho do olho.
Não era ninguém, nada importante, nem indispensável na vida de quem quer que fosse.
Não se sentia dona de nada.
Era só, e só se mantinha, pra não doer depois, dizia.
Mas, lá no íntimo, ainda sonhava.
Queria um braço forte em torno da cintura fina, queria um beijo apaixonado, queria ser olhada como única, um tesouro, o sol.
Queria ainda sentir, sim, o peso de um homem sobre o corpo magro e bem-feito, entrelaçar as penas em pernas musculosas, emaranhar os cabelos em cabelos cacheados como os dela, e gemer junto com ele num dueto perfeito, uma vida inteira suspirada e misturada à saliva, num segundo de vida-quase-morte, em camas-terremotos.
O tempo, inimigo cruel e desumano, tirou essas coisas dela, os homens passaram por sua vida, e continuaram seus caminhos, buscando novas carnes e novas aventuras, e ela sorria seu sorriso de pérolas brilhantes, e sorria seu olhar triste.
E, assim caminhava Rita, mulher e linda, afilhada de Iemanjá, devota de grandes divindades e santas, pelas ruas de uma cidade qualquer.
Uma mulher comum, como tantas que cruzamos por aí, com seus amores e sorrisos complacentes, e cabelos ao vento, e lágrima que não escorria pelo rosto marcado pela vida, mas brotava direto da alma, do ventre, do vazio da solidão.

Roberta Nunes
25/09/2005

p.s.: Pessoal, esse texto é uma pequena experiência, num estilo diferente do meu habitual.
beijos a todos.

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