22.7.08

" O chão é a cama para o amor urgente,
amor que não espera ir para a cama.
Sobre o tapete ou duro piso, a gente
compõe de corpo e corpo a úmida trama
E para repousar do amor, vamos a cama."

Carlos Drummond de Andrade

2.7.08

Quando desejos outros é que falam

Quando desejos outros é que falam
e o rigor do apetite mais se aguça,
despetalam-se as pétalas do ânus
à lenta introdução do membro longo.
Ele avança, recua, e a via estreita
vai transformando em dúlcida passagem.

Mulher, dupla mulher, há no teu âmago
ocultas melodias ovidianas.

Carlos Drummond de Andrade

16.5.08

Saudade


Ah, sim!
A pústula!
Nojenta, cheia de pus esverdeado e mau-cheiro.
Uma coisa horrível de se ver.
Uma cicatriz mal costurada que, ao menor movimento, cospe podridão.
É assim que te vejo hoje.
E percebo como é pervertido o prazer de lamber essa ferida, travestida de amor.
As formigas já invadindo nossa cama, e as moscas, ah, as moscas! tão fiéis aos cadáveres em decomposição, fazendo sinfonias ao nosso redor.
Larvas gordas e brilhantes nadando no nosso suor azedo.
Baratas cascudas limpando os cantos das nossas bocas babosas, restos de vinho e beijo.
Restos de restos.
Fios de cabelos nas fronhas imundas, cheias de manchas mitológicas.
Olho em volta e vejo a degradação: paredes descascadas e mofadas, tapetes rotos, um prato com restos de refeições debutantes.
Insetos e você.
Aranhas se fartando...
"Who wants to live forever?
Who dares to love forever?
When love must die?"*
Não quero ser enterrado vivo num túmulo que nem é meu.
Nessa lápide, meu nome não está escrito, e as datas não correspondem ao meu mapa astral (que eu nunca fiz).
O som oco dos seus ossos descalcificados, o rangido das suas articulações!
E os livros desfolhados, jogados sobra a nossa cama, uma colcha de núpcias.
E as folhas secas das árvores do cemitério, que é nosso vizinho mais querido, invadem nosso universo de gemidos e gritos agonizantes e revirar de olhos e arrastar de correntes.
Beijo pois, pela última vez, essa boca desdentada.
E sinto, pela última vez, esse hálito morto invadir meus pulmões.

Roberta Nunes
10/05/2008

* "Quem quer viver para sempre?
Quem ousa amar para sempre?
Quando o amor dever morrer?"
Who wants to live forever - Queen

RECOLHIMENTO
Charles Baudelaire

Sê sábia, ó minha Dor, e queda-te mais quieta.
Reclamavas a Tarde; eis que ela vem descendo:
sobre a cidade um véu de sombras se projeta,
a alguns trazendo a angústia, a paz a outros trazendo.

Enquanto dos mortais a multidão abjeta,
sob o flagelo do Prazer, algoz horrendo,
remorsos colhe à festa e sôfrega se inquieta,
dá-me, ó Dor, tua mão; vem por aqui, correndo deles.

Vem ver curvarem-se os Anos passados
nas varandas do céu, em trajes antiquados;
surgir das águas a Saudade sorridente;
O Sol que numa arcada agoniza e se aninha,
e, qual longo sudário a arrastar-se no Oriente,
ouve, querida, a doce Noite que caminha.

15.5.08

em algum dia de maio

A espada jazia na lama.
A lâmina, outrora reluzente, estava negra de sangue seco.
Nem a chuva incessante dissolvia aquela bainha funesta.
Logo, a própria lama, onde repousava, displicente, a cobriu.
E nem o som das grossas gotas batendo no metal era mais ouvido.
E os corvos e abutres fugiam, assustados com aquela tempestade tão incomum.
Mais parecia um lamento dos céus, derramado pelos valorosos que tombaram naquele dia.
Mas, aquele não seria o último dia daquela lâmina.
Ela não seria maculada pelo tempo, seu fio permaneceria mortal, e a oxidação não mancharia seu aço.
Ela adormeceria, até que mãos poderosas, destemidas e valentes a tomariam para si, tal qual um marido toma sua noiva virgem na noite de núpcias, primeiro com cuidado, depois com paixão. E ela se entregaria a ele tal qual uma noiva virgem, primeiro com medo e receio, depois com volúpia e alegria.
E seriam um só nesse momento, uma só alma pulsando, pensando juntos, um sendo parte do outro, até não restar uma só cabeça sobre os ombros dos inimigos.
A espada saberia esperar.
Sempre fora paciente.
Ela era eterna, como as pedras que lhe enfeitavam o punho.
O tempo dos homens não era nada para ela.
Dormiria, sonharia e seria recompensada.
Seu senhor estava vindo.

E nunca mais sentiria a dormência que as águas gélidas do lago provocava.

Roberta Nunes
em algum dia de maio de 2008


Mordred´s Song - Blind Guardian

“Nothing else,

but laughter is around me
forever
more
no
one can heal me
nothing can save me
no
one can heal me
I've gone beyond the truth
it's just another lie
wash away the blood on my hands
my father's bloodin agony we're unified”



“Nada mais

Senão risadas me cercam
Para sempre
Ninguém pode me curar
Nada pode me salvar
Ninguém pode me curar
Eu fui além da verdade
É só mais uma mentira
Lavo o sangue das minhas mãos
O sangue de meu pai
Na agonia nós estamos unificados”
...

23.4.08

Oração a São Jorge


"Eu andarei vestido e armado
com as armas de São Jorge
para que meus inimigos,
tendo pés não me alcancem,
tendo mãos não me peguem,
tendo olhos não me vejam,
e nem em pensamentos eles possam me fazer mal.
Armas de fogo o meu corpo não alcançarão,
facas e lanças se quebrem sem o meu corpo tocar,
cordas e correntes se arrebentem sem o meu corpo amarrar.
Jesus Cristo, me proteja e me defenda com o poder de sua santa e divina graça,
Virgem de Nazaré, me cubra com o seu manto sagrado e divino,
protegendo-me em todas as minhas dores e aflições,
e Deus, com sua divina misericórdia e grande poder,
seja meu defensor contra as maldades e perseguições dos meus inimigos.
Glorioso São Jorge, em nome de Deus,
estenda-me o seu escudo e as suas poderosas armas,
defendendo-me com a sua força e com a sua grandeza,
e que debaixo das patas de seu fiel ginete,
meus inimigos fiquem humildes e submissos a vós.
Assim seja com o poder de Deus, de Jesus e da falange do Divino Espírito Santo.
São Jorge Rogai por Nós."

27.3.08

Ode à Aphrodite

"Aphrodite em trono de cores e brilhos,
Imortal filho de Zeus, urdidora de tramas!,
Eu te imploro: a dores e mágoas não dobres,
Soberana, o meu coração,

Mas vem até mim, se jamais no passado,
Ouviste ao longe meu grito, e atendeste,
E o palácio do pai deixando,
Áureo, tu vieste,

No carro atrelado: conduziam-te, rápidos,
Lindos pardais sobre a terra sombria,
Lado a lado num bater de asas, do céu,
através dos ares,

E pronto chegaram; e tu, Bem aventurada,
Com um sorriso no teu rosto imortal,
perguntaste por que de novo eu sofria,
E por que de novo eu suplicava,

E o que para mim eu mais quero,
No coração delirante.
Quem de novo, a Persuasiva
Deve convencer para o teu amor? Quem,
Ó Psappha, te contraria?

Pois, ela, que foge, em breve te seguirá;
Ela que os recusa, presentes vai fazer;
Ela que não te ama, vai te amar em breve,
Ainda que não querendo

Vem, outra vez – agora! Livra-me
Desta angústia e alcança para mim,
Tu mesma, o que o coração mais deseja:
Sê minha Ajudante - em - Combates!


Safo de Lesbos

À Morte


Morte, minha Senhora Dona Morte,
Tão bom que deve ser o teu abraço!
Lânguido e doce como um doce laço
E como uma raiz, sereno e forte.

Não há mal que não sare ou não conforte
Tua mão que nos guia passo a passo,
Em ti, dentro de ti, no teu regaço
Não há triste destino nem má sorte.

Dona Morte dos dedos de veludo,
Fecha-me os olhos que já viram tudo!
Prende-me as asas que voaram tanto!

Vim da Moirama, sou filha de rei,
Má fada me encantou e aqui fiquei
À tua espera... quebra-me o encanto!

Florbela Espanca

(1894-1930)

Nota: Último poema escrito por Florbela Espanca, no dia 8 de dezembro de 1930, na sua última noite com vida.
Foi levada pelo suicídio.

3.3.08

"Vou deixar-te levar-me até à fecundidade da destruição.
Por isso me atribuo um corpo, um rosto e uma voz.
Eu sou-te como tu me és.
Cala o fluxo sensacional do teu corpo
e encontrarás em mim,intactos,
os teus medos e as tuas penas.
Descobrirás o amor separado das paixões e eu descobrirei as paixões privadas de amor.
Sai do papel que te atribui se descansa no centro dos teus verdadeiros desejos.
Por um momento deixa as tuas explosões de violência.
Renuncia à tensão furiosa e indomável.
Eu passarei a assumi-las."

Anaïs Nin - A Casa Do Incesto

13.2.08

A Semente

A náusea vinha em ondas, e o esforço para segurar o vômito era enorme.
Sentia-se esgotado.
Estava molhado, cansado, com o corpo todo dolorido, a garganta inchada, a cabeça pesando uma tonelada.
Achou que seria melhor vomitar logo de uma vez, e se livrar daquilo.
Mas, afinal, ele prometera se segurar.
Sabia que, se expelisse o que tinha dentro de si, bem, nada de bom poderia acontecer.
A travessia foi difícil, o mar estava agitado, as algas anormalmente desenvolvidas devido à poluição, atrapalhavam a viagem, e as águas-vivas estavam terrivelmente agressivas, e agiam como se não reconhecessem o seu toque.
A viagem foi estranha, mas, no íntimo, ele sabia que nada poderia estar normal àquela altura do campeonato.
Segurou mais uma vez o regurgito e se pôs de pé.
Era um homem, dois braços e duas pernas, olhos escuros, com roupas encharcadas, cabelos escorridos, molhado de mar, que havia atravessado todo o Oceano Atlântico, à nado, para chegar em algum lugar no Brasil.
Bizarro, não?
Mais bizarra ainda foi a paisagem!
Praia Grande, São Paulo.
Em pleno mês de fevereiro, verão, alta-temporada e... deserta!
Como o resto das praias do estado, do país, do mundo.
Ninguém à vista, e nem fora da vista.
Estava deserto.
Morto.
Estagnado.
Se decompondo, lentamente.
O silêncio esmagador!
O mais estranho de tudo era que o que estava no seu estômago, e que precisava ser vomitado,
salvaria um mundo inteiro!
Ele trazia A Semente.
E só Deus saberia o que poderia nascer daquilo...

Roberta Nunes
13/02/2008
o que será de mim,
sem você?

7.2.08

a Enterprise













A construção da nave original, NCC - 1701.

Vamos ver o que esse filme vai apresentar...

Sou fã da série clássica, mesmo com todos aqueles efeitos toscos.

30.1.08

Poema 230

O amor é o cemitério populoso da podridão.
O leite derramado dos heróis.
Destruição de lenços de seda pela tempestade de pó.
Carícia de heróis vendados
presos nos postes.
Vítimas de assassinatos aceitas nesta vida.
Esqueletos trocando dedos e juntas.
A carne trêmula dos elefantes da gentileza
sendo despedaçada pelos abutres.
Concepções de rótulas delicadas.
Medo de ratos espalhando bactérias.
A Fria Esperança da Gólgota pela Esperança do Ouro.
Úmidas folhas de outono contra o casco dos barcos.
As delicadas imagens de cola do cavalo-marinho.
Morte por longa exposição à desonra.
Seres assustadores encantadores ocultando seu sexo.
Pedaços da essência de Buda congelados e fatiados microscopicamente
em morgues do norte.
Pômos do pênis a ponto de semear.
Mais gargantas cortadas que grãos de areia.
Como beijar minha gata na barriga.
A suavidade de nossa recompensa.

Jack Kerouac
(escrito total e completamente sob o efeito de morfina)

28.1.08

Pretty Woman

Tá, eu sei, não existe nada mais brega do que esse filme.
Pior ainda, é gostar dele.
Um continho de fadas bem sem-vergonha.
Mas, eu gosto.
E, como a mocinha Julia Eca Roberts, eu fico esperando sim, um milionário Richard The Best Gere.
Não, eu não admito isso publicamente, numa mesa de bar, por exemplo.
Só de ouvir a música do Roy Orbson já fico toda arrepiada.
E a cena do piano?
PUTA QUE O PARIU!
Droga.
Só falta agora eu contar que chorei quando assisti Cidade dos Anjos...

23.1.08

Cirurgião

Vou cutucando aqui e ali, abrindo buraquinhos com a ponta de um bisturi cego, que encontrei na sarjeta.
E vou abrindo esses buraquinhos com pinças enferrujadas, e fuçando lá dentro como faria um cirurgião-barbeiro do século XV.
A pele, deliciosamente elástica, se abrindo, lasciva, aos meus dedos curiosos e desesperados.
As coisas se acumulando nos baldes e bacias ao meu redor, folhas soltas, um pôr-do-sol, aquele dia na praia, os ruídos de uma cidade ao amanhecer, a pestilência de um sorriso cansado, a maldita prosa que insiste em ser poesia, manca e corcunda, a virgindade perdida sabe-se-lá-onde, você.
E, quanto mais eu penetro (vai, com força!) naquela podridão, os vermes também surgindo, e sem se incomodar com a minha intromissão, me convidam para o baile e, depois o banquete.
Perfeitamente!
Enquanto o fel, escorrendo das feridas abertas, empoçando no chão.
Enquanto o sangue, coagulado e talhado, feito queijo negro, prato principal dos vermezinhos gordos.
Enquanto as fezes, acumuladas há séculos, empesteiam o ar.
A puta parada ali, no canto, rindo da sujeira respingada nas paredes e teto, e dos meus braços, lambuzados até os ombros.
Seu riso desdentado e a baba verde, virulenta.
Seus olhos vazios e as meias rasgadas.
Seu ventre vazio e a alma rasgada.
A espectadora (escárnio?) dessa dissecação sacra.
Busco o prazer nesse seu ânus arregaçado, puta, já com as pregas arrebentadas pelo meu estupro contínuo.
Ah! A antiga viscosidade ainda lá, bem no fundo...
O prazer da areia entrando pelos poros.
E meu gozo lá, nos seus intestinos.
Minha porra quente bem onde você sempre gosta mais, e grita mais alto, a puta de olhos vazios.
Me passe agora, sua vadia, a linha e a agulha, pois preciso costurar os retalhos de mim mesmo, e depois beijar essa sua boca, escancarada num grito mudo e perpétuo.
E limpe essa sujeira.


Roberta Nunes
23/01/2008

18.1.08

Pústula

Ah, sim!
A pústula!
Nojenta, cheia de pus esverdeado e mau-cheiro.
Uma coisa horrível de se ver.
Uma cicatriz mal costurada que, ao menor movimento, cospe podridão.
É assim que te vejo hoje.
E percebo como é pervertido o prazer de lamber essa ferida, travestida de amor.
As formigas já invadindo nossa cama, e as moscas, ah! as moscas! tão fiéis aos cadáveres em decomposição, fazendo sinfonias ao nosso redor.
Larvas gordas e brilhantes nadando no nosso suor azedo.
Baratas cascudas limpando os cantos das nossas bocas babosas, restos de vinho e beijo.
Restos de restos.
Fios de cabelos nas fronhas imundas, cheias de manchas mitológicas.
Olho em volta e vejo a degradação: paredes descascadas e mofadas, tapetes rotos, um prato com restos de refeições debutantes.
Insetos e você.
Aranhas se fartando...
Who wants to live forever?*
Who wants to love forever?*
Não quero ser enterrado vivo num túmulo que nem é meu.
Nessa lápide, meu nome não está escrito, e as datas não correspondem ao meu mapa astral (que eu nunca fiz).
O som oco dos seus ossos descalcificados, o rangido das suas articulações!
E os livros desfolhados, jogados sobra a nossa cama, uma colcha de núpcias.
E as folhas secas das árvores do cemitério, que é nosso vizinho mais querido, invadem nosso universo de gemidos e gritos agonizantes e revirar de olhos e arrastar de correntes.
Beijo pois, pela última vez, essa boca desdentada.
E sinto, pela última vez, esse hálito morto invadir meus pulmões.

Roberta Nunes
18/01/2007



* Quem quer viver para sempre?

* Quem quer amar para sempre?

Queen - Who wants to live forever

tema do filme Highlander

17.1.08


preciso comentar???

16.1.08

Raduan

um texto.
topei com ele hoje, e não pude evitá-lo.

AÍ PELAS TRÊS DA TARDE
(para José Carlos Abbate)

Nesta sala atulhada de mesas, máquinas e papéis, onde invejáveis escreventes dividiram entre si o bom senso do mundo, aplicando-se em idéias claras apesar do ruído e do mormaço, seguros ao se pronunciarem sobre problemas que afligem o homem moderno (espécie da qual você, milenarmente cansado, talvez se sinta um tanto excluído), largue tudo de repente sob os olhares a sua volta, componha uma cara de louco quieto e perigoso, faça os gestos mais calmos quanto os tais escribas mais severos, dê um largo "ciao" ao trabalho do dia, assim como quem se despede da vida, e surpreenda pouco mais tarde, com sua presença em hora tão insólita, os que estiveram em casa ocupados na limpeza dos armários, que você não sabia antes como era conduzida. Convém não responder aos olhares interrogativos, deixando crescer, por instantes, a intensa expectativa que se instala. Mas não exagere na medida e suba sem demora ao quarto, libertando aí os pés das meias e dos sapatos, tirando a roupa do corpo como se retirasse a importância das coisas, pondo-se enfim em vestes mínimas, quem sabe até em pêlo, mas sem ferir o decoro (o seu decoro, está claro), e aceitando ao mesmo tempo, como boa verdade provisória, toda mudança de comportamento. Feito um banhista incerto, assome em seguida no trampolim do patamar e avance dois passos como se fosse beirar um salto, silenciando de vez, embaixo, o surto abafado dos comentários. Nada de grandes lances. Desça, sem pressa, degrau por degrau, sendo tolerante com o espanto (coitados!) dos pobres familiares, que cobrem a boca com a mão enquanto se comprimem ao pé da escada. Passe por eles calado, circule pela casa toda como se andasse numa praia deserta (mas sempre com a mesma cara de louco ainda não precipitado) e se achegue depois, com cuidado e ternura, junto à rede languidamente envergada entre plantas lá no terraço. Largue-se nela como quem se larga na vida, e vá ao fundo nesse mergulho: cerre as abas da rede sobre os olhos e, com um impulso do pé (já não importa em que apoio), goze a fantasia de se sentir embalado pelo mundo.

Raduan Nassar
Texto extraído do livro "Menina a caminho", Companhia das Letras - São Paulo, 1997. pág.71.

15.1.08

quem sabe um dia...

eu consiga me desligar, me desprender, me desassociar.
quebrar as correntes, e me manter distante.
indiferente.
a dor não me atingiria.
e talvez, só talvez, as coisas fossem mais sutis.

10.1.08

O Foco

Perder o foco não é algo assim tão simples.
Exige um nível de "desconcentração" alto demais.
Ok.
Você está certo.
Essa é a impressão.
Mas, no fim das contas, não é falta de foco, é só atropelo.
Urgência.
Faço isso o tempo todo.
É um problema, eu sei, não existe jeito de uma pessoa assim ser levada à sério.
Eu não ligo.
Nunca levei isso de ser levada à sério, à sério.
A vida é curta demais.
Temos muito o que viver.
5, 6, 7, 20.
Não importa.
Só quero passar a noite, e dormir no teu braço.

3.1.08

meus amigos, eu e vocês em 2008


porra!
tive que comprar um celular novo depois do natal.
e tive que fazer depilação.
e sempre menstruo em final de mês, ou quando entro num trampo novo, ou quando tenho aquele encontro com um cara legal.
não que eu esteja reclamando.
o celular é legalzinho, embora eu ainda não saiba mexer nele, a depilação só dói na hora e, depois que tive a minha filha, A-D-O-R-O menstruar, e o tal cara legal não se incomodou....
já não reclamo mais, feito velha desocupada, ou melhor, feito velha incomodada com a felicidade alheia.
e viverei assim, por opção minha:
opção: tenho poucos amigos, mas os que tenho, são meus amigos mesmo.
opção: tenho poucos problemas.
opçãp: tenho poucas pessoas pra mentir pra mim, ou pra se ocupar da minha vida.
opção: fico com a minha família, filha, pais, irmãos.
opção: meus desejos só serão compartilhados com quem quiser compartilhá-los sinceramente.
opção: as suas conquistas serão aplaudidas por mim, de todo coração.
opção: se você quiser me beijar, ponha pra tocar uma música boa, e me beije.
opção: silêncio? nunca! nem que seja só som de respiração ofegante.
opção: nunca mais sentir aquela sede terrível! da próxima vez, eu levo a cerveja...
opção: não quero me casar.
opção: vou escrever meu livro.
opção: muito, mas muito beijo na boca!
opção: um poema de Charles Bukowski

Se vai tentar
siga em frente.

Senão, nem começe!
Isso pode significar perder namoradas
esposas, família, trabalho...e talvez a cabeça.

Pode significar ficar sem comer por dias,
Pode significar congelar em um parque,
Pode significar cadeia,
Pode significar caçoadas, desolação...

A desolação é o presente
O resto é uma prova de sua paciência,do quanto realmente quis fazer
E farei, apesar do menosprezo
E será melhor que qualquer coisa que possa imaginar.

Se vai tentar,
Vá em frente.
Não há outro sentimento como este
Ficará sozinho com os Deuses
E as noites serão quentes
Levará a vida com um sorriso perfeito
É a única coisa que vale a pena.

é isso aí, pessoal...
ps: adoro essa imagem!
ela já apareceu por aqui antes, e em outros blogs também.
fala sério: é ou não é um puta pega?