
Um texto meio antigo.
Mais um exercício erótico.
Eu acho.
Foi escrito para uma coletânea que, acredito eu, não rolou.
Não importa.
Boa leitura!
Quase não pude conter as lágrimas.
Li e reli sua carta.
Uma centena de vezes.
Duas centenas.
Milhares.
É estranho o peso que a palavra escrita de próprio punho tem. A letra arredondada, o corte no “t”, o pingo no “i”, o “m” parecendo suas nádegas redondas.
Sua letra corrida, apressada, como se tivesse que correr atrás das idéias antes que elas lhe escapassem.
Mordi a língua para conter o soluço.
E a imaginação, impregnada de memória, viajou pra longe.
Fechei os olhos, e fui até você.
Sua voz macia, trespassando meu coração. Seus pelos, arrepiados ao meu toque, as pernas lindas, me prendendo numa máquina de tortura, dor e prazer.
A carta, impregnada do seu perfume, me transporta direto para seu ventre liso, seus seios pontudos, suas costas macias, suas orelhas quentes.
Aperto suas nádegas, e afundo meu rosto nos pêlos, púbis, nome lindo!, selvagens, úmidos.
Seu sexo arfante, pulsante, incendiário.
Meus dedos percorrem as linhas escritas e penetram na umidade e calor da vulva viva.
Vejo suas bocas abertas pra me receber, e ouço seus sussurros, vejo as línguas vermelhas serpenteando, me chamando, implorando pelo arrebatamento, por mim.
Sinto seu aperto, e o ar à minha se move em todas as direções.
Meu corpo não respira ar, só aspira o vapor que emana do seu suor, sua essência.
Meus lábios beijam a folha de papel, e minha língua se enrosca na sua, e sinto seus dentes.
A saliva é como a água num oásis no meio do deserto, um néctar doce de frutas, sem o qual não há vida.
A maciez dos lábios, carne, fluídos abundantes, sangue.
A língua, sabida e lasciva, perigosa,
Os dentes, meus e seus, que nunca deixam de morder, e os sangues que sempre inundam nossos beijos.
A boca, manchada e molhada, como num bolero antigo, volta a percorrer o corpo, cada canto e fresta, cada dobra e poro, canta ponto e cada vírgula.
Vejo essa mesma boca manchada e molhada, de sangue e batom borrado, repetindo, murmurando as palavras da carta de amor, de saudade, de veneno:
“... não posso suportar sua presença.
Sua essência é a morte.
Sua saliva tem gosto de perdição.
Tomo a loucura num só gole, emborco a taça da sua insanidade.
Odeio as rendas e sedas com que você me acorrenta e amordaça na sua alcova.
Não gosto da poesia que você desperta em mim, e, no entanto, não sei fazer outra coisa a não ser lirismo e sandices.
Meu útero está gelado.
Minha vagina está vazia e seca.
Não sei viver sem a umidade, aquela onde você escorrega, e me afoga...”
As suas sutilezas deslizam pelo papel, páginas e páginas delas.
Páginas de amor.
Páginas de beijos insanos.
Linhas intermináveis, sua boca ávida e faminta, ali, descrita com tanto furor a paixão.
Minha boca sedenta, acompanhando meus olhos incendiados.
Olho pela janela um instante, e vejo uma lua pálida, e noites vazias.
Roberta Nunes
Santo André, 07/12/2007.
16h10 – horário de verão
Ro, sensacional!!!
ResponderExcluirQuente, quente, quente!!!
Muito bom, amiga, vou começar uma campanha para vermos lançado um livro seu o mais depressa possível!
Beijos e parabéns
Nossa Roberta. Bem legal!!!!
ResponderExcluirAdorei, a cnarrativa vai ficando meio claustrofóbica...hehehe...da hora, curto muito textos que afetam os sentidos.
:0)
Puxa eu tinha postado um comentário aqui e aparentemente não foi.
ResponderExcluirEu havia dito que este tipo de texto não me apetece mas ele está muito bem escrito!!!!