21.9.09

Madrugadas Frias



A madrugada estava fria, como sempre.
Sempre faz frio em São Paulo.
Mesmo sendo uma cidade de um país tropical, aqui é sempre gelado antes da aurora.
Mas ainda sim, não me poupo do prazer de caminhar pelas ruas desertas do centro.
Ouço passos atrás de mim, e já não era sem tempo!
Uma mulher andando sozinha, no meio da madrugada, pelas ruas de uma metrópole não passaria despercebida, claro.
E claro, eu já contava com isso.
Precisava mesmo me exercitar, a ferrugem produz ruídos terríveis nas articulações!
De repente, senti um braço na cintura, uma mão na boca para abafar um possível grito. A abordagem clássica!
Deixei que suas mãos me agarrassem, e fui sendo meio arrastada, meio carregada, para trás de umas árvores enormes que havia numa praça ali perto. Se alguém viu a cena, bom, sabe como é, cada um na sua...
Devidamente jogada ao chão, pude ver meu agressor: jovem, imundo, faminto, viciado.
O cheiro de podridão e corrupção que emanava dele só aumentava minha expectativa.
Deixei que rasgasse minha blusa, e meus seios saltaram pra fora por causa da violência, e me empinei mais um pouco, para ressaltar o volume das formas arredondadas, e mantive um olhar assustado, mesmo sentindo as ondas do prazer antecipado.
Estava escuro e me senti grata, afinal eu estava ruborizada e não pálida, como a situação exigiria.
Enquanto sua língua percorria as partes onde a pele estava nua, senti um arrepio intenso, um arrebatamento que só quem vive a situação sabe.
Eu sabia que precisava me controlar.
Sabia que o êxtase tem seu momento certo.
Não adiantaria se eu me descontrolasse e me deixasse levar pelo prazer.
Deixei que o rapaz me tocasse, me lambesse, me xingasse.
Por baixo daquela decadência, eu sabia que havia luz.
Ele, apesar da pouca idade, era surpreendentemente experiente, e sabia que, mesmo sendo um ataque violento, eu estava excitada.
Não havia como esconder, a umidade brotava de mim como se fosse de uma nascente de águas perfumadas, a minha respiração arfante e a veia pulsando no pescoço, os mamilos endurecidos, tudo indicava que sim, eu estava gostando daquilo.
O moço não se fez de rogado, e ali, no chão, rodeados de embalagens vazias de salgadinho e guimbas de cigarro, nos enroscamos um no outro enquanto ele me invadia com seu membro enorme.
A cada estocada eu tirava mais dele, minhas unhas lanhavam suas costas, tirando crostas de sujeira e tiras de pele, e o sangue escorria e eu lambia os dedos.
Enquanto o pobre rapaz gozava, tudo o que havia nele era meu, afinal.
Ignorei suas memórias, seus desejos de viciado e sua sede de alcoólatra.
Suguei seu sêmen, seus testículos, seus rins.
O coração eu arranquei, com as unhas mesmo. Foi fácil afastar as costelas...
Só deixei os cabelos e as unhas, que são muito indigestos.
O dia estava amanhecendo, e na praça, em meio a um pouco de lixo e umas roupas velhas e sujas, eu enterrei seus olhos.
O meu povo nunca come os olhos.
Dizem que é onde vive a alma, e não é de bom-tom comer a alma de alguém.
Vesti minhas roupas, agora esfarrapadas, e fui pra casa tomar um banho, afinal, era quinta-feira, dia de muito trabalho no escritório.

Roberta Nunes
21/09/2009

*Foto: Theda Bara com caveira

6 comentários:

  1. Anônimo11:27 AM

    Erótico e assustador. Me diga onde mora e qual o horário aproximado em que essa personagem costuma fazer suas andanças. Vou encontrá-la.

    ResponderExcluir
  2. Sensacional!!! Bem no estilo que eu gosto. Cruel ao extremo.

    Você bem que podia me dar a honra de publicar um texto seu no Estronho hein (um não... mais de um)

    Beijos horripilantes

    ResponderExcluir
  3. kkkkkk lindo! confesso que vou tomar mais cuidado quando saio com vc pelas madrugadas!
    Realmente vc precisa ler Deuses Americanos, dai eu vou ficar assustado!!!!

    ResponderExcluir
  4. "O coração eu arranquei, com as unhas mesmo".

    Hhahahaha. Adorei o tom prático dessa frase! Excelente. Essa protagonista merece mais, hein?
    Beijo grande!

    ResponderExcluir
  5. É, Ro, sempre achei as mulheres meio canibais mesmo...
    Hehehehehe, parabéns, amiga, outro ótimo conto!
    Beijos

    ResponderExcluir
  6. Moça te conheci o blog e a narrativa através do Fantastik do Eric Novello.E que boa surpresa, adorei o texto, profano o suficiente para me agradar. Só fiquei curiosa quanto a espécie da moça.riss.Ela merece muito mais espaço.
    Vou voltar, beijos mordidos!

    ResponderExcluir