29.7.05

Ressaca literária

Sabem, ando com vontade de me suicidar.
Não é nada pessoal, é só cansaço.
Antes, eu tinha as letras.
Lindas, perfeitas, verdades.
Agora, não passam de lixo fantasioso e hipócrita.
Chega a ser piada!
Noventa por cento de baba-ovos de nove por cento, e um por cento que presencia essas cenas patéticas e que precisam vomitar, pra não morrerem de tédio.
Como eu vou morrer em breve, não ligo mais.
Sofro, sim, pelos pobres da fatia de um por cento, que têm suas caixas de entrada entupidas de mensagens cretinas, de propostas indecentes de degradação.
Literatura usada para inflar egos.
Literatura usada como pretexto para línguas nas botas.
Pessoas ditas inteligentes, com bons empregos, boa formação, que não se dão ao trabalho de perceber o que sua escrita pode criar, as perspectivas em mentes um pouco mais suscetíveis.
Lixo com pontuação obscenamente correta, gramática perfeita, ortografia corrigida automaticamente pelo editor de textos.
Tempos verbais irreais, cansativos e bastante comuns, infelizmente.
Tanto pra ser escrito fora da Terra dos Contos de Fadas.
Ei, você, Peter Pan cresceu. E mandou um recado: “Foda-se, e me deixe em paz.”
Tenho medo da dor, preciso encontrar um método eficaz de morte. Rápida e indolor.
Só vou lamentar os livros INCRÍVEIS que ainda não li.
O resto é lixo. Adaptações toscas de histórias fantásticas. Linguagem fantasiosa do mal. Purpurina no sangue da virgem. Romance mela-cueca para mulheres mal-amadas, mal-casadas, mal-elas-mesmas. Bichas enrustidas punhetando em frente ao espelho, olhando suas próprias caras. E escrevendo sobre isso!
Deusinhos de merda, adorados por merdinhas menores.
Talvez, eu peça para ser enterrada com os livros meu favoritos.
Sinto o gosto amargo da ressaca literária.

Roberta Nunes
28/07/2005

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