16.6.09

Um curto ensaio íntimo sobre o meu próprio cinismo

Esse texto estava no Estilhaços de Alma, mas acho que se encaixa perfeitamente aqui também.
Estou com preguiça de cuidar de dois espaços ao mesmo tempo e, como aqui é mais antigo... bom, dane-se.
Lê aí e não enche.


A simples tentativa de fazer com que os sentimentos se comportam como tal, já faz com que a situação se torne risível, e o cinismo toma conta de tudo.
O bom e velho cinismo, companheiro de muitos copos no bar, presente em muitas rodas de conversa.
Sempre ali.
Sempre pronto pra te provar que ele está sempre certo.
Não adianta você esperar que um dia as coisas mudem, e você comece a encarar o mundo de uma forma diferente.
O cancro vai aparecer bem lá no canto direito do seu sorriso, aquele sorriso que você ensaia na frente do espelho, é, aquele que é pra parecer sincero, honesto, doce.
Ele te come por dentro, aos poucos, cada dentada profunda, agulhas finas de tatuagem unidas no esforço de marcar e marcar, e lembrar e lembrar.
Dor aguda.
Espera-se que as pessoas sejam boas e, quando elas são honestas e verdadeiras, fugimos delas, nos vemos espelhados nas lentes redondas de suas personalidades distorcidas.
Descobrir que sua vida é um enorme clichê, faz de você uma poça escura e estagnada de cinismo.
O próprio cinismo é clichê, dos mais baratos e ridículos.
Você olha pro céu, e pede uma resposta.
Quando ela chega, parece mais uma confirmação do que você já sabia, os anjos mostrando com mímicas e teatrinho, que você sempre estava certo o tempo todo, mesmo com a cara mergulhada na sua própria poça esverdeada.
E tudo na sua vida caminha nessa linha fina e reta, um fio de espada cega e enferrujada, um pé na frente do outro, tal e qual a moça malabarista com a sombrinha de renda na mão, só que a platéia, repleta de espelhos refletindo você, torce para que você caia na piscininha cheia de piranhas lá embaixo.
Acho que eu ando lendo muitos autores assumidamente cínicos.
E tenho me identificado bastante com eles.
Prefiro assim, a verdade impressa.
O cuspe na cara.
O porre homérico.
Depois, a ressaca amarga.
E duas aspirinas, engolidas com a ajuda da água podre da minha própria poça.


Roberta Nunes
18/02/2009

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